Corrida aos grandes projetos solares já fez o ICNF autorizar o abate de 3775 sobreiros e azinheiras. Ambientalistas apontam para o triplo. Dióxido de carbono evitado pelas centrais supera o que se perde com a desflorestação, garantem promotores
Vista de longe, a paisagem parece quase um deserto. Em vez do verde das árvores e da vegetação rasteira que ali crescia, observa-se o solo rapado e uma árvore perdida. Assim é a nova paisagem em perto de metade dos 868 hectares da Herdade da Torre Bela, na Azambuja (que ficou conhecida pela matança de 540 animais em 2020) e onde serão instalados mais de 600 mil painéis fotovoltaicos. Além do abate de centenas de sobreiros, o estudo de impacte ambiental prevê a afetação de pradarias húmidas e áreas importantes para a regulação do ciclo da água e retenção de solo.
A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) impôs várias condições, mas a paisagem não será a mesma. Bernardo dos Santos, diretor-geral da Neoen Portugal, o promotor do projeto da Torre Bela, diz que a central será partida em “unidades com 20 hectares e separadas por corredores verdes para fomentar a conexão entre os cerca de 200 hectares de áreas de proteção da biodiversidade, onde se incluem os povoamentos e núcleos de sobreiros e azinheiras”. No conjunto das centrais da Torre Bela e Rio Maior, licenciadas no mesmo processo, serão abatidos quase 900 sobreiros, mas Bernardo dos Santos prefere sublinhar que “mais de 6 mil serão mantidos”. […]