Ao longo de três dias, no final de novembro, estiveram reunidos em Lisboa cerca de 100 participantes para discutir os desafios da fileira do pinheiro manso, nomeadamente na gestão dos povoamentos, nos problemas fitossanitários e nos mercados nacionais e internacionais.
Em termos da silvicultura ficou evidente o impacto positivo dos povoamentos mistos no crescimento do pinheiro manso e a importância dos desbastes e da estrutura etária dos povoamentos na capacidade de regeneração, ou seja, a abertura de clareiras nos povoamentos adultos para potenciar o estabelecimento de novas plantas. Conhecemos ainda o resultado de um ensaio de colheita mecanizada no Chile em pinheiros mansos enxertados, sem evidência de danos o que, até agora, não tinha sido testado em Portugal.
A diversidade genética do pinheiro manso foi também tema, existindo já em Espanha clones de elite registados, cujo perfil genético permite a sua diferenciação no mercado. A enxertia é uma realidade em viveiro, uma vez que as taxas de sucesso das enxertias no campo, em Espanha, são muito baixas fruto das condições climatéricas mais extremas do que em Portugal. Os dois parques clonais existentes em território nacional são geridos por duas organizações de produtores florestais e asseguram, desde 2008, milhares de garfos de qualidade, certificados ao abrigo do Catálogo Nacional de Materiais de Base, ferramenta essencial para garantir o futuro da produção de pinha nas árvores enxertadas. Assegurar a variabilidade genética é fundamental para garantir a sustentabilidade da floresta de pinheiro-manso.
O conjunto de agentes bióticos que atualmente afetam o pinheiro manso é bastante extenso, não sendo o contexto climático e a globalização alheias a este facto. A erradicação em contexto florestal não é um cenário plausível, sendo que na maioria das situações o que ocorre é um controlo dos danos, quando possível, e não uma erradicação da praga. Nas comunicações sobre o sugador das pinhas salientou-se a necessidade de metodologias de monitorização desta praga em pinhais, para que se conheça a sua presença e a quantidade de insetos e consequentemente a necessidade, ou não, de tratamentos fitossanitários. O desenvolvimento de feromonas no futuro para captura deste inseto poderá ser potenciado pelos trabalhos de ecologia química já realizados. As alterações climáticas impactam também a produção de pinha, nomeadamente na sobrevivência das pinhas no 1º, mas também no 2º ano, em anos com verões muito quentes. Particular atenção deve ser dada a uma praga emergente em Itália, a Toumeyella Parvicornis, que já foi também detetada em populações isoladas em Espanha. As condições geográficas onde o pinheiro manso se distribui em Portugal são também adequadas à dispersão desta nova praga.
Nos mercados nacionais e internacionais de frutos secos, o pinhão, representa apenas 1`%, num espaço que é dominado pela China, onde o pinhão tem origem numa espécie distinta do pinheiro manso. São necessários mecanismos de certificação que permitam diferenciar o pinhão mediterrânico, dos restantes pinhões comercializados pela China e pela Rússia, até porque as propriedades do pinhão mediterrânico do ponto de vista nutritivo são superiores aos restantes miolos de pinhão. Esforços adicionais têm ainda de ser garantidos para melhorar as estatísticas da fileira, cujos códigos atuais não permitem uma correta quantificação da pinha e do pinhão exportado, por exemplo.
Na sua mensagem de encerramento, o Eng. Rui Pombo, Diretor Regional do ICNF, anunciou que o processo de antecipação da data legal de colheita da pinha já se encontra na Secretaria de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, para regulamentação, depois de um processo técnico onde a UNAC e o INIAV entregaram em junho de 2022 o pedido tecnicamente fundamentado para alteração da época de colheita para 1 de novembro, esperando com esta medida aumentar a transparência nos mercados.
Mais informação em https://pineaspot-congress2023.pt/
Fonte: UNAC