O antigo ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes disse que o Acordo de Paris teve um impacto positivo e que sem ele o mundo estaria muito pior em termos de emissões, do discurso e da ambição.
João Pedro Matos Fernandes era em 2015 o recém-empossado ministro do Ambiente e discursou no segmento de alto nível da 21.ª conferência da ONU sobre o clima, a COP21, realizada em Paris, faz hoje precisamente 10 anos.
Uma década depois, em declarações à agência Lusa, afirmou não ter dúvidas da importância do acordo então alcançado, para Portugal, para a Europa e para o Mundo.
Questionado sobre se as promessas e expectativas do Acordo de Paris estão a ser cumpridas, considerou que o importante não é comparar o que está a acontecer com o que era suposto acontecer, mas sim o que aconteceria se não tivesse sido assinado o Acordo.
O Acordo de Paris, documento vinculativo mais importante em relação ao clima e assinado por praticamente todos os países do mundo em 2015, estipula a obrigação da redução de gases com efeito de estufa (GEE) para manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo os dois graus centigrados”.
Perante o plenário da COP21 Matos Fernandes destacava o empenho de Portugal “com a profunda descarbonização da sua economia” e falava dos “grandes passos em termos de redução da poluição industrial” ou na promoção das energias renováveis. O país está “preparado e empenhado para ir mais longe porque o objetivo é um futuro sem emissões de carbono”, disse então.
Agora, em declarações à Lusa, admitiu que este possa não ser ainda o ano em que as emissões de GEE atinjam o seu limite, para começar então a diminuir, e recordou o comprometimento dos países em impedir um aumento da temperatura superior a 1,5ºC em relação à era pré-industrial.
Para Matos Fernandes, se essa meta for ultrapassada há que procurar outras metas, sem medos, e não baixar os braços.
O ex-ministro do Ambiente do PS recordou ainda do processo que levou ao Acordo de Paris a importância da diplomacia francesa, que “foi essencial”, e diz-se desiludido com os resultados da última conferência do clima, a COP30, realizada no mês passado no Brasil.
“Se há diplomacia com grande presença e capacidade é a brasileira”, referiu, acrescentando depois que essa diplomacia não conseguiu um melhor acordo, nem junto da aliança de que faz parte que é o BRICS, uma dezena de países, incluindo por exemplo a Índia.
Mas apontou outros bons resultados como a descarbonização em Portugal. “Só na geração de eletricidade reduzimos 83%” (as emissões), disse, recordando o encerramento da refinaria de Leça da Palmeira (desativada em 2021).
E destacou que o país é hoje mais independente em termos energéticos, com fontes renováveis, com Portugal a ter o quinto preço mais baixo na indústria da Europa.
“Estamos mesmo a cumprir o nosso papel, e o acordo foi muito importante para Portugal e para a Europa”, disse, apontando a “divergência” dos Estados Unidos na questão ambiental, ainda que no ano passado o país tivesse investido mais em energias renováveis do que a União Europeia.
Mas, reconheceu, os Estados Unidos “não deixam de influenciar negativamente outros países”.
O antigo ministro apontou ainda a China, que não precisou de um “acordo verde” como a Europa para perceber que a forma de fazer crescer a economia é investir na sustentabilidade. E está “mesmo a conseguir”.
E lamentou os que acham que se devem abrandar as metas do Acordo de Paris. Apontou a crise na indústria automóvel europeia provocada por ela própria, enquanto andou a pedir prorrogações (no fim dos veículos movidos a combustíveis fósseis) a China fazia carros elétricos, que as pessoas querem agora comprar.
Em Paris, faz hoje 10 anos, já advogava um novo padrão de mobilidade urbana como forma de combater os GEE.












































