Vários países do Sul da Europa e do Mediterrâneo estão a enfrentar uma onda de calor extremo que já provocou incêndios mortíferos em Itália, Grécia, Turquia ou Argélia e colocou em alerta Portugal e Espanha.
O balanço mais grave regista-se na Argélia, país do Norte de África com costa mediterrânica, onde o número de vítimas mortais dos incêndios aumentou nas últimas horas para 69 – 41 civis e 28 militares.
A Argélia observa hoje o primeiro de três dias de luto pelas vítimas dos incêndios, mas o fogo continua sem dar tréguas na região montanhosa da Cabília (Norte).
Na Itália, os incêndios continuam a destruir hectares de floresta na Sicília, Sardenha e Calábria (Sul), onde já provocaram cinco mortos e mantêm sob ameaça locais classificados como património mundial.
Na quarta-feira, a cidade de Siracusa, na ilha meridional da Sicília, atingiu 48,8 graus Celsius (ºC), de acordo com o serviço meteorológico regional, no que poderá ser um novo recorde de calor na Europa e ultrapassar os 48 ºC registados em Atenas em 1977.
“Estamos a perder a nossa História, a nossa identidade está a ser reduzida a cinzas, a nossa alma autêntica está a arder no silêncio geral”, escreveu o presidente da câmara de Reggio Calabria, Giuseppe Falcomatà, na rede social do Facebook, citado pela agência France-Presse (AFP).
Na Grécia, os incêndios provocaram pelo menos três mortos e destruíram mais de 100.000 hectares desde 29 de julho, um recorde desde 2007, de acordo com dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).
No início de agosto, o país foi atingido pela “pior vaga de calor” em três décadas, segundo o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, com temperaturas que atingiram os 45 ºC.
“A crise climática está aqui”, disse hoje Kyriakos Mitsotakis, repetindo mais uma vez que a Grécia está a enfrentar “uma imensa catástrofe ecológica”.
Sem registo de mortos, a Tunísia também está a braços com centenas de incêndios em várias regiões devido às altas temperaturas, que atingiram hoje 50,2 ºC na cidade de Kairouan (Centro), anunciou a proteção civil daquele país africano do Mediterrâneo, segundo a EFE.
A onda de calor também provocou incêndios no Sul da Turquia, onde se registaram oito mortos desde o final de julho, mas o país está hoje a braços com cheias em três províncias do Norte que já fizeram pelo menos cinco vítimas mortais.
A Península Ibérica também se prepara para temperaturas elevadas esta semana, com alertas de calor e de risco de incêndio em Portugal e Espanha devido à chegada de uma massa de ar quente do Norte de África.
Em Espanha, 13 comunidades estão em alerta de temperatura elevada, duas delas em risco extremo (Aragão e Catalunha), e a Agência Estatal de Meteorologia antecipa temperaturas máximas que poderão atingir os 44 ºC nos próximos dias.
As previsões levaram mesmo as autoridades catalãs a lançar esta semana um “grito de alarme” e a recordar que “estas temperaturas muito elevadas causaram muitos incêndios em simultâneo” na Grécia e em Itália.
O calor também atingiu a França, onde se esperam picos de 40 ºC no Sudeste do país e cerca de 20 departamentos estão sob uma vigilância de alta temperatura.
Em Portugal, 12 distritos estão hoje em aviso amarelo devido ao calor e cinco deles vão passar a aviso laranja na sexta-feira, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que antecipa temperaturas acima dos 40 ºC em algumas regiões do interior.
Também a ilha da Madeira vai estar com aviso amarelo devido às temperaturas elevadas entre sexta-feira e domingo.
Na quarta-feira, a Proteção Civil colocou cinco distritos do interior Norte, Centro e Sul em alerta laranja no próximo fim de semana, devido ao risco de incêndio potenciado pelas condições meteorológicas previstas.
Embora seja difícil ligar qualquer incêndio específico às alterações climáticas, os cientistas têm alertado para fenómenos extremos resultantes do aumento da temperatura global.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou para as consequências das alterações climáticas na segunda-feira, num relatório que o secretário-geral das Nações Unidos, António Guterres, disse ser um “alerta vermelho para a Humanidade”.