Pela primeira vez em Portugal, está a germinar uma iniciativa público-privada para incentivar a formação especializada na área florestal. A Altri Florestal, a Corticeira Amorim, a SONAE Arauco e a The Navigator Company vão financiar 22 bolsas de estudo no Ensino Superior para colmatar uma necessidade de recrutamento. A frequência de um ciclo de estudos poderá acontecer na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), na Universidade do Porto (UP), no Instituto Superior de Agronomia (ISA) ou na Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC).
“Esta parceria inédita em Portugal vai contribuir para aumentar a oferta de diplomados na área florestal, porque, neste momento, a procura do mercado é muito superior. Existem diversos casos de ofertas de trabalho para engenheiros florestais que não têm candidatos”, refere o vice-reitor para a Investigação da UTAD, Eduardo Rosa.
As empresas vão assegurar 100% do valor das propinas, ficando os estudantes totalmente isentos do seu pagamento. Na UTAD e UP, vão poder frequentar as licenciaturas de Engenharia e Biotecnologia Florestal, já no ISA, poderão optar por Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais. No Ensino Politécnico, a ESAC oferece uma licenciatura em Ciências Florestais e Recursos Naturais. Só no último ano, mais de metade das 796 vagas abertas nestas instituições ficaram por preencher, uma realidade que não se coaduna com as atuais e futuras saídas profissionais.
Até ao final de 2030, a floresta portuguesa será alvo de investimento na ordem dos sete mil milhões de euros e o Governo estima ainda que sejam criados 60 mil postos de trabalho nesta área. Também o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê um conjunto de investimentos superior a 400 milhões de euros.
“O País já se ressente da falta de técnicos na área florestal, mas nos próximos anos, as autarquias, as empresas e os próprios serviços do Estado vão ter necessidade de capacitar os seus quadros e apostar na sua renovação. Por outro lado, a dificuldade em encontrar técnicos especializados poderá ameaçar a concretização dos projetos financiados por fundos europeus”, conclui Eduardo Rosa.
Em 2019, o setor florestal representou 2,3% do emprego nacional, o que se traduz em cerca de 99 649 trabalhadores distribuídos pelas diferentes atividades florestais. Já o volume de negócios foi de 9,8 mil milhões de euros na indústria de base florestal e de mais de 952 milhões de euros nas empresas silvícolas. Em 2021, as exportações florestais rondaram os 5,5 mil milhões de euros, com um saldo positivo da balança comercial de 2,7 mil milhões de euros.
O artigo foi publicado originalmente em UTAD.