A Força Aérea Portuguesa (FAP) realizou, desde 2020 e até 26 de setembro, 1.587 missões com Sistemas Aéreos Não Tripulados (SANT), 642 delas dedicadas a apoiar o combate aos incêndios, segundo dados oficiais divulgados à Lusa.
No total, as 1.587 missões equivalem a 5.495 horas de voo com aeronaves não tripuladas.
Estas operações são da responsabilidade da Esquadra 991, prestes a completar dois anos de existência, e desenvolvem-se a partir de três bases: a base-sede, no Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea, na Ota, Alenquer, no distrito de Lisboa, outra em Beja e a terceira em Mirandela, no distrito de Bragança.
A partir de cada uma é feita a vigilância do território continental – Centro, Sul e Norte, respetivamente.
Segundo o capitão da FAP e comandante de missão, Filipe Fernandes, que falou à Lusa no Aeródromo Municipal de Mirandela, de maio a outubro estes aparelhos estão empenhados no Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais (DECIR).
“Os nossos operadores estão focados em várias coisas. Não só em detetar um foco de incêndio, o nosso trabalho é mais do que isso”, explicou, afirmando que o que distingue o trabalho da FAP é o facto de, em tempo real, estar a auxiliar os meios que estão a combater os fogos.
Segundo o responsável, através de câmaras eletro-óticas e de infravermelhos, a missão consegue passar uma informação em tempo real aos meios que estão no terreno.
Filipe Fernandes destacou a velocidade de deslocação das aeronave, que podem ser colocadas a 50, 100 quilómetros num espaço de meia hora, uma hora, consoante o terreno.
Cada missão dura quatro horas e, diariamente, há dois equipamentos no ar. Os pontos do país onde são levadas a cabo as missões são atribuídos conforme o risco de incêndio identificado para cada dia.
A operação que a Lusa acompanhou em Mirandela, que tinha como destino a zona sul do distrito de Bragança, começou com um ‘briefing’ aos cinco elementos responsáveis pela missão.
Depois, dois desses elementos deslocaram-se até à pista, de onde é feita a descolagem do aparelho, tendo a capitão Marta Coimbra a função de apoio de linha: “Fizemos uma descolagem automática. Estão sempre dois elementos na pista, para dar apoio à descolagem que está a ser feita no ‘cockpit’”, disse.
O ‘cockpit’, que é diferente de um avião convencional, fica em terra e é a estação de controlo remoto. À distância, em seis monitores distintos, dois militares recebem as informações enviadas pelas câmaras da aeronave remota.
O piloto-remoto interno tem a função de fazer voar a aeronave através de controlo remoto. Ao lado tem o operador de sensores, que “é responsável por recolher as informações do terreno” e, através da imagem, fazer filmagens e tirar fotografias.
O mesmo operador consegue depois fazer a ligação com outras entidades externas, como a Proteção Civil ou a GNR, para passar as informações recolhidas”, explicou o comandante.
“Quando estamos em operação, temos a capacidade de observar o terreno. Conseguimos verificar se há alguma atividade, como por exemplo queimadas. Depois, passamos essa informação, e há uma verificação para ver se estão ou não legais. Também conseguimos ver se os trabalhos que estão a ser efetuados com maquinarias (…) estão em concordância com o grau de risco a cada zona específica”, detalhou ainda Filipe Fernandes.
Durante o resto do ano, fora do âmbito DECIR, as aeronaves desenvolvem outro tipo de missões, como a fiscalização de áreas protegidas e cadastro territorial.
Estes aparelhos não são exclusivos das florestas, porque a sua missão é de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR, na sigla em inglês): “Fazemos vigilância marítima e terrestre”, detalhou o capitão.
Este ano, no total, efetuaram 320 missões, das quais 141 no âmbito do DECIR e, entre as outras, três relacionadas com a Jornada Mundial da Juventude e 12 solicitadas pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática.
Filipe Fernandes e a restante tripulação fazem parte da Esquadra 991 “Harpias”, que integra 40 militares e é a primeira unidade aérea do dispositivo da FAP para a operação de Sistemas Aéreos Não Tripulados.
Tem uma frota de 12 aeronaves, de fabrico português e desenvolvidas especificamente para estas operações.
As aeronaves assemelham-se a um avião em pequena escala – 4,2 metros de envergadura, 2,75 metros de comprimento e 1,25 metros de altura -, estão equipadas com câmaras, pesam 40 quilos e podem chegar aos três mil metros de altitude, bem como atingir velocidades entre os 80 a 100 quilómetros por hora, com autonomia de até nove horas, o que seria suficiente para um alcance de 800 quilómetros.
Os “Harpias” têm ainda uma unidade móvel, montada numa carrinha, o que permite colocá-la “em qualquer ponto do país”, fazendo descolar uma aeronave e fazer uma operação normal, concluiu o comandante.