Foi-nos colocada uma questão: numa exploração em modo de produção biológico que plantas escolher para integrar um espaço que sirva de abrigo e alimentação à fauna auxiliar e que seja, ao mesmo tempo, agradável aos sentidos, ajardinado, um bom cartão de visita?
Sem perder muito tempo com definições, a fauna auxiliar será todo um conjunto de insetos, outros artrópodes, aranhas, pássaros, batráquios (sapos e rãs), morcegos, …, os que combatem de forma natural as pragas das culturas.
Um exemplo que todos conhecemos é o das joaninhas; outro, um pouco menos comum, são as crisopas. Os sirfídeos são muito abundantes, mesmo em meio urbano. Existem ainda os parasitoides, como é exemplo o das pequenas vespas que colocam os seus ovos dentro dos ovos ou das larvas de pragas como os afídeos (que só veremos se estivermos atentos).
As abelhas e outros polinizadores também são auxiliares, sendo dos mais prioritários a proteger.
A área a reservar, a que se pode chamar infraestrutura ecológica, para além do valor ornamental, deve ser escolhida de forma a alcançar em pleno o seu objetivo. Assim:
– Deve estar situada suficientemente perto das culturas a proteger: alguns autores estudam a distância de voo das joaninhas e de outros insetos, por exemplo;
– Será uma zona de plantação de espécies anuais, bianuais ou perenes, mas que não exija cavas ou outras intervenções perturbadoras.
A escolha das espécies merece estudo e planeamento para que:
– Em caso algum se introduza na exploração plantas que possam tornar-se infestantes ou concorrentes com as culturas, que possam ser repositórios de vírus ou que tenham pragas e doenças coincidentes com a cultura agrícola;
As plantas devem assegurar várias funções:
– Produzir néctar, pólen ou melada e dar abrigo a artrópodes para nutrição dos auxiliares;
– Permitir aos auxiliares refúgio e proteção contra as condições meteorológicas e práticas culturais;
– Ornamental, que sejam plantas agradáveis à vista ou aos restantes sentidos, cabendo aqui um lugar especial às plantas aromáticas.
Em trabalhos que nos foram dados a conhecer recentemente, realizados em Espanha e Canárias (PERVEMAC), chegam-nos orientações que nos parecem importantes, entre elas a urgência em escolher plantas autóctones.
Sendo a ilha da Madeira, e com mais razão o Porto Santo, um ecossistema frágil por definição, não se deverá em caso algum introduzir novas espécies, uma vez que estas transportam em si o risco de se tornarem infestantes ou invasoras.
Faz então todo o sentido procurar dentro da flora autóctone plantas que cumpram os objetivos em questão e possam integrar a infraestrutura ecológica.
Há ainda muito trabalho de campo a realizar, essencialmente na observação e recolha de dados, no sentido de se avaliar as melhores plantas para cada situação edafoclimática (exposição, altitude, adaptação a barrancos, resistência à falta de água, etc.).
Propomos, por agora, as seguintes entre as nativas e endémicas:
Calendula (Calendula arvensis), estreleiras (Argyranthemum sp.), funcho (Foeniculum vulgare), hortelã de cabra (Cedronella canariensis), massaroco (Echium candicans ou E. nervosum, conforme a altitude), losna (Artemisia argentea), murta (Myrtus communis), orégão (Origanum vulgare), arruda (Ruta chalepensis), goivo da rocha (Matthiola maderensis); piorno (Genista tenera), os vários Helichrysum, Sonchus, Andryala, Lotus, a Teline maderensis, a Sinapidendron angustifolium, tão abundante junto ao mar em situações ventosas e muitas mais que se tem de estudar.
Para além das já mencionadas, nomeamos as seguintes que foram introduzidas na nossa Região há bastante tempo e cujo comportamento não é considerado infestante.
O alecrim (Rosmarinus officinalis), que, nas plantas mais velhas, floresce o ano inteiro; o basílico (Ocimum basilicum), plantas da seda (Asclepias fruticosa e A. curassavica), que apenas interessa a uma lagarta em particular, a monarca, mas onde sempre se encontram afídeos e joaninhas, a borragem (Borago officinalis) ,sempre visitada pelas abelhas e com floração abundante; a salsa (Petroselinum sativum) com floração prolongada, alfazemas (Lavandula sp.), calêndula (Calendula officinalis) e coentros (Coriandrum sativum).
Já observou abelhas ou outros insetos auxiliares em plantas autóctones ou aromáticas? Faça-nos chegar as suas observações, para que se possa chegar a um consenso sobre quais as plantas mais eficazes para integrarem uma infraestrutura ecológica em cada uma das nossas ilhas e em cada uma das microrregiões (altitude, exposição), assim como as mais adequadas a cada cultura.
É sobretudo de desaconselhar a compra de sementes por catálogo, mesmo que pareçam agradáveis e bonitas e ainda que façam parte de listas internacionais de plantas para funções pré-estabelecidas.
Temos uma flora original, vasta e biodiversa e, ao estudá-la, encontraremos com certeza espécies que realizem as funções pretendidas.
Bibliografia
– Fontinha et al., “Plantas de São Lourenço”, Funchal 2008;
– Navarro, E. R. ,Fernández M. G. (2014): “Vegetación Autóctona y Control Biológico: diseñando una Horticultura intensiva sostenible”.
Fátima Isabel Freitas
Centro de Horticultura, DEMA
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural