A Anpoc (Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais) e a Anpromis (Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo) organizaram, com o apoio da CONSULAI, uma sessão online integrada no projecto ValorCer – Valorizamos o Sector dos Cereais, dedicada ao tema “Importância da Marca para a Valorização do Produto”, com o objectivo de definir linhas estratégicas para o aumento de competitividade na fileira através da marca.
Jorge Neves, presidente da Anpromis, abriu a sessão anunciando que estará para breve a criação da interprofissional para a fileira dos cereais. «Uma plataforma onde se promovam os produtos e as suas marcas e que funcione como um local de diálogo entre toda a fileira e de partilha de conhecimento». Já José Palha, presidente da Anpoc, contextualizou o projecto ValorCer, seguindo-se então a primeira apresentação, na voz de Rui Freire, consultor na área de marketing e estratégia de negócio ligado ao sector agrícola. O especialista defendeu que a fórmula para se obterem bons resultados a partir da criação de uma marca passa por uma boa estratégia, a definição de um compromisso e um bom plano de implementação.
Seguiram-se os testemunhos de vários representantes de empresas que criaram marcas pensando nos cereais de produção nacional como factor diferenciador.
Luís Guilherme, administrador da petMaxi, empresa do grupo das rações Zêzere, referiu que seria muito importante poderem ter rações para animais com matérias-primas totalmente nacionais, mas essa escala ainda não existe. «O cereal representa mais de 50% da composição dos nossos alimentos. Na nossa empresa, estamos a falar de um consumo de 12 mil toneladas/mês de milho, 1.500 toneladas/mês de trigo e 1.000 de cevada. Não temos essa capacidade. Usamos cereais portugueses quando é possível. E a indústria lamenta não haver quantidade de cereais nacionais disponíveis. Recorrer a produtos estrangeiros não nos beneficia», explicou
Já Rita Costa, do departamento de marketing da marca Bohémia, do Grupo Central de Cervejas, falou da importância do lançamento da cerveja produzida com cevada do Alentejo. «Estamos num mercado muito competitivo e quisemos trazer valor e diferenciação. Usámos os cereais do Alentejo para cumprir esse objectivo. Temos uma relação bastante próxima dos produtores nacionais há muito tempo, que agora é comunicada por uma marca».
Diogo Amorim, é padeiro e fundador da Gleba, uma padaria e moageira que produz pães artesanais com farinhas frescas e 100% nacionais. «Os cereais do Alentejo são uma grande vantagem para a nossa marca. São de extrema qualidade e têm excelentes características organolépticas. Os trigos do Alentejo são únicos no aroma, por exemplo. Ao trabalharmos só com cereais do Alentejo sem defraudarmos a sua qualidade nos processo de moagem e de panificação, cumprimos os nossos ideias de qualidade e sustentabilidade».
Miguel Soares, director comercial e de marketing da Nos Lusomundo Cinemas, frisou o sucesso que tem sido a parceria feita com a Agromais para a produção de pipocas que são vendidas nos bares dos cinemas. «O milho para pipocas é de uma variedade específica que não era produzida em Portugal. Nos últimos 20 anos importávamos esse milho de vários países, até que quisemos fazê-lo em Portugal. Para isso, desafiámos a Agromais a produzir esta variedade. Passámos a ter , pipocas 100% de milho nacional. É um projecto de que muito nos orgulhamos e que permitiu controlar melhor todo o processo, reforçar a sustentabilidade da empresa reduzindo em mais de 50% a pegada de carbono e contribuirmos para a economia nacional».
A fechar a mesa redonda, António José Madaleno, administrador executivo da Orivárzea, a maior Organização de Produtores de arroz em Portugal, partilhou a aposta de lançarem a marca Bom Sucesso, recorrendo a vários factores diferenciadores. «É um arroz 100% português, de uma só região, que é o Ribatejo, e o único que é exclusivamente nacional, tanto na produção como na transformação. Criámos também valor no embalamento e na atmosfera modificada para aumentar o tempo de duração do produto».
Recorde-se que Portugal apresenta um nível de autoaprovisionamento de cerca de 23% para a totalidade dos cereais e de cerca de 5% para o trigo.
Live-stream: Importância da Marca para a Valorização do Produto
O artigo foi publicado originalmente em Revista Frutas Legumes e Flores.