Investigador traça a realidade de um concelho em que a agricultura cresceu exponencialmente a partir dos anos 1980, sem se integrarem os milhares de pessoas que chegam para trabalhar, com maior pressão no pico das colheitas.
Casas sobrelotadas e sem as mínimas condições; intermediários do recrutamento que fomentam a exploração laboral e tráfico de seres humanos; impacto negativo no ambiente. Estes são os principais problemas que Gonçalo Palhinhas detetou na sua tese de mestrado: “Políticas de desenvolvimento rural: O impacto dos grandes investimentos agrícolas no concelho de Odemira”. Defende que há falhas de todas as autoridades, nacionais e locais, e que o maior obstáculo é a falta de comunicação entre as estruturas. “É uma bolha a rebentar e quem aqui vive previa que ia acontecer”.
A situação que descreve em relação à habitação, o DN observou-a há duas semanas, quando esteve na freguesia de São Teotónio, a que tem maior número de imigrantes. “Casas pequenas, com quatro pessoas em cada quarto, sem sala, e quem lá vive acaba por estar na via pública. A casa é tão pequena que não conseguem estar lá todos. Uma vez, em Cavaleiro, uma aldeia que fica entre o Almograve e a Zambujeira do Mar, vi roupa estendida a secar em postos de sinalização”, diz o investigador, que vive no concelho, em Vila Nova de Milfontes.
Acrescente-se que muitas são habitações degradadas, a sala foi transformada em quarto, com uma cozinha para todos, às vezes sem água quente, onde se paga entre 120 e 150 euros por cama, com o metro quadrado mais caro do que em Lisboa. No pico da colheita de frutos, legumes e flores, entre abril e junho, a população do concelho aumenta de 24 mil para 40 mil residentes, dados da autarquia.
“Para o sucesso de um plano estratégico é essencial o cumprimento estrito de todas as entidades locais e governamentais para que se adote uma posição fixa com o devido cumprimento das obrigações das entidades nas fiscalizações, levantamento de dados, acolhimento/integração de migrantes e monitorização do território, a fim de uma Política Regional de Desenvolvimento Rural centrada em dinâmicas e estratégias territoriais especificas e sustentáveis com o objetivo de equilibrar o território”, defendeu o investigador na tese.
Ao DN, sublinha: “Houve um falhanço total das autoridades, que não integram quem chega. Acabam por ser as empresas prestadores de serviço, que aparecem e desaparecem, e o fazem nas piores condições. O Governo sabia o que se passava, nomeadamente através do Alto Comissariado das Migrações, que fala do problema há pelo menos cinco anos, e muito pouco tem sido resolvido. Há deficiência das autoridades locais, mas também não posso culpar