O peso da agricultura na economia portuguesa tem aumentado, com uma expressão crescente nos mercados internacionais, e mostrou ser resiliente durante a pandemia. O desafio da sustentabilidade está a ser abordado e conta-se com o dinheiro da PAC para lhe dar resposta.
A agricultura portuguesa tem evoluído de forma bastante positiva e tem aumentado o seu peso na economia nacional. Esta é a principal mensagem que a ministra da Agricultura deixa nesta entrevista ao Jornal Económico, em que se mostra otimista para o futuro, dizendo que os mais de 10,6 mil milhões de euros disponibilizados no quadro da Política Agrícola Comum (PAC) vão ajudar a que o sector supere os desafios que se colocam, de produtividade e de sustentabilidade, o que passará, também, pela inovação e pela tecnologia.
Como avalia o desenvolvimento recente da indústria agroalimentar portuguesa?
Deixe-me começar por salientar a importância do complexo agroalimentar na nossa economia, através de números que não deixam dúvidas sobre o bom desempenho deste sector. O complexo agroalimentar representa 3,9% do Valor Acrescentado Bruto [VAB] e, se incluirmos os serviços ligados à produção agroalimentar, a agricultura representa 9,1% do VAB e 10,3% do emprego total.
Efetivamente, o sector agroalimentar português tem feito um percurso notável ao longo dos últimos anos, apresentando-se, atualmente, como um sector mais organizado, mais profissional, mais inovador e mais orientado para o mercado. Além disso, as nossas empresas têm conseguido adaptar-se aos novos padrões de consumo e também têm feito um trabalho exemplar no desenvolvimento de produtos que são valorizados nos mercados externos. A este respeito, também tem contribuído o trabalho de promoção que tem sido feito junto dos compradores externos, com o imprescindível apoio dos clusters do agroalimentar.
Também de referir que, na última década, o peso das exportações do complexo agroalimentar no comércio internacional de bens e serviços, passou de 5,4%, em 2000, para 9,3% em 2020, o que representa uma evolução reveladora da capacidade que o sector teve para se consolidar e diversificar. Consequentemente, ao aprofundar a sua capacidade exportadora, as empresas agroalimentares tornam-se mais produtivas e mais capazes de gerar emprego.
O que tem motivado o crescimento e a maior capacidade de internacionalização?
O aumento das exportações na última década – cerca de 4,9% ao ano, entre 2010 e 2020 – deveu-se, em grande parte, ao grande dinamismo de vários sectores, como é o caso do sector das hortofrutícolas, do vinho e do azeite, assim como da produção animal. Claramente, verificou-se uma aposta das empresas nacionais em conhecimento, capacitação, inovação, diferenciação e promoção dos produtos nacionais, a par de um trabalho institucional para chegar aos mercados externos. Por outro lado, o padrão de internacionalização tem assentado na consolidação dos mercados abertos – como os mercados da União Europeia, que constituem o principal destino das exportações portuguesas, e os mercados em países de comunidades portuguesas – e na abertura e diversificação de novos mercados, objeto de interesse por parte dos nossos operadores económicos.
Recordo que, mesmo durante a pandemia, as exportações do sector agroalimentar cresceram cerca de 2,5% em 2020, face a 2019, e evidenciaram um crescimento de 9% nos primeiros oito meses de 2021, face ao período homólogo de 2020. Aliás, segundo as Estatísticas Agrícolas de 2020, reveladas recentemente pelo INE [Instituto Nacional de Estatística], o sector agrícola foi o sector que evidenciou uma maior resiliência, tendo registado um aumento das exportações e uma diminuição das importações.
Por fim, e ainda relativamente a este ponto, refira-se que o Ministério da Agricultura está muito alinhado com as associações representativas do sector agroalimentar na definição das respetivas opções estratégicas, estando também alinhado com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, cuja ação é fundamental sempre que é necessário desbloquear barreiras ao comércio. Neste âmbito, importa ainda recordar os diversos incentivos disponibilizados pelo Ministério da Agricultura, financiados por fundos europeus e nacionais, destinados à promoção, no mercado nacional, intracomunitário e em países terceiros, de vários produtos agrícolas, nomeadamente fruta, produtos hortícolas e vinho. Além disso, a nossa Agenda da Inovação para a Agricultura 2030, à qual chamámos “Terra Futura”, vem proporcionar às empresas mecanismos institucionais de suporte, de facilitação do negócio e de acesso à inovação e ao conhecimento tecnológico, e uma das suas cinco metas consiste exatamente em aumentar em 60% o investimento em investigação e desenvolvimento.
Está confiante na aprovação da […]