Técnicos da associação ambiental Palombar estão a proceder a sementeiras de cereais e leguminosas para alimentação da fauna selvagem e pecuária na área ardida em 15 de agosto no Douro Internacional, avançou hoje fonte desta organização.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Palombar, José Pereira, disse que após o incêndio que lavrou no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) foi elaborado um plano de emergência para recuperar o ecossistema e habitantes desta região.
“O objetivo é criar alimento para a fauna selvagem, como os corsos, javalis ou perdizes, para alimentos da aves de rapina, como é caso do abutre-preto, e, ao mesmo tempo, apoiar os produtores pecuários para que os seus animais, sejam ovinos ou caprinos, se possam também alimentar em determinadas parcelas desta área protegida”, explicou o também biólogo.
Este tipo de sementeira é feita com compostos à base de centeio, trigo, ervilhaca, lentilha, como as ervilhacas ou a garrota, todas consideradas “boas fontes nutricionais para a fauna quer selvagem quer doméstica”, disse.
Segundo José Pereira, esta ação está a ser efetuada nas áreas das aldeias de Lagoaça e Fornos, onde está instalado o centro de aclimatação do abutre-preto.
“Nesta fase inicial, se tudo correr bem, esperamos que, até ao final do ano, se possam semear 15 a 20 hectares de terreno ardido. Este é um processo que vai levar alguns anos para recuperar o ecossistema afetado pelo incêndio de 15 de agosto”, vincou.
Estas plantações e outras intervenções contam com o acompanhamento do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), porque esta intervenção decorre em área protegida.
“Para além das sementeiras, vamos recuperar equipamentos ambientais que foram destruídos ou danificados pelas chamas, para manter vivo todo o ecossistema, como é o caso dos ninhos artificiais, uma operação que também está em curso”, destacou o dirigente.
Segundo este técnico da Palombar – um dos parceiros do programa ibérico LIFE Aegypius Return – quatro machos e duas fêmeas de abutre-preto voltaram à liberdade plena, num território afetado pelo incêndio que ainda causou a morte de pelo menos duas crias desta espécie, destruiu seis ninhos e infraestruturas de conservação, incluindo a própria estação de aclimatação.
José Pereira avançava à Lusa em 21 de agosto que o incêndio que deflagrou na área do Douro Internacional deixou um forte impacto ambiental na colónia de abutre-preto que estava a ser consolidada nesta área protegida.
O abutre-preto é uma das aves de rapina mais raras da Europa e a pequena colónia no PNDI contava apenas com oito casais reprodutores antes do incêndio, dos quais dois ficaram com o ninho totalmente destruído e outros dois com o ninho severamente afetado pelas chamas, que estão agora a ser recuperados.
O projeto ibérico LIFE Aegypius Return pretende, a longo prazo, assegurar o estado de conservação favorável do abutre-preto em Portugal, consolidando, expandindo e acelerando a recolonização natural, melhorando o habitat e a disponibilidade alimentar e mitigando as ameaças.
Dados do relatório nacional provisório do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais (SIGF), a que a agência Lusa na altura teve acesso indicavam que, até 24 de agosto, havia 11.697 hectares de área ardida no fogo que destruiu uma grande mancha da flora do PNDI.
O incêndio do Douro Internacional deflagrou no dia 15 de agosto, em Poiares, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, e depressa se alastrou aos concelhos vizinhos de Torre de Moncorvo e Mogadouro, deixando um rasto de destruição nas pastagens e em culturas como o olival, amendoal, vinha, laranjal, floresta, colmeias equipamentos agrícolas e ambientais e graves “sequelas” no ecossistema local.












































