Se há tema que ainda gera desconfiança e insegurança por parte do setor agrícola é a questão da transição ecológica e da sustentabilidade. Para os mais capacitados, os dois temas são indissociáveis: sem olhar para a atividade numa perspetiva sustentável, não há rendimento nem futuro, ponto. Mas para uma fração menos profissional, a mudança de práticas traz muitas dúvidas e incertezas que é preciso entender, primeiro, e desmistificar, depois.
Mas isto está longe de querer dizer que todas as propostas nesta matéria sejam dinamizadoras de mudanças positivas, em especial as diretrizes europeias. Impor restrições sem analisar impactos e, sobretudo, proibir determinadas utilizações sem assegurar que existem alternativas viáveis e eficazes para a continuação da atividade pode colocar em risco a atividade. Se a Europa quer mais ambição na proibição de agroquímicos e fertilização de síntese, tem de ser mais célere e menos doutrinária na autorização e promoção de soluções biotecnológicas e de tecnologia de precisão que promova o uso racional de fatores de produção.
Qual a razão para continuarmos, no velho continente, isolados na proibição de utilização de organismos geneticamente modificados e até da tecnologia CRISPR? E por que razão não se autoriza a pulverização por drones, mais precisa, menos perigosa em contaminações indesejadas e com menor utilização de produtos? E porque tardam os biopesticidas? A verdade é que a fase em que vivemos é extremamente desafiadora: as alterações climáticas trazem menor controlo sobre pragas e doenças, mais secas severas e maior debilidade e resistências das plantas. E, para tudo isto, o espectro de soluções fitossanitárias é cada vez mais curto. E esse é um risco que a Europa não deveria correr, sob pena de inviabilizar uma parte significativa da sua agricultura.
“Impor restrições sem analisar impactos e, sobretudo, proibir determinadas utilizações sem assegurar que existem alternativas viáveis e eficazes para a continuação da atividade pode colocar em risco a atividade.”
É óbvio que há um enorme trabalho a fazer, e a produção está alinhada nesse sentido, para regenerar, promover a resiliência das plantas e mudar as práticas. Mas isto leva tempo, requer muito conhecimento e, mais importante, muita abertura para a mudança. Daí a importância de os pioneiros e mais avançados partilharem os seus exemplos e de serem os verdadeiros influencers… da sustentabilidade.
#agricultarcomorgulho
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.