A produção artesanal de aguardentes em Moçambique pode representar um sério risco para a saúde pública. A conclusão é de Gercílio Luís Chichava, que analisou na Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM) amostras de aguardente tradicional – nipa, sope ou xindere – recolhidas nas províncias de Manica, Sofala e Gaza.
Produzidas sem regulamentação, controlo e garantia de segurança, aquelas bebidas apresentaram níveis elevados de cobre, um metal que, se ingerido em excesso, pode causar problemas neurológicos, hepáticos e renais. “Quem as consome tem em geral bochechas inchadas, irritações nos olhos e na pele, envelhece depressa e já não trabalha para sustentar a família, mas para obter bebida”, referiu o investigador, nos laboratórios do Departamento de Química da ECUM, vindo ao abrigo do Programa Erasmus+.
Aquelas aguardentes são frequentemente produzidas em tambores corroídos, com utensílios contaminados, água não tratada e resíduos alimentares, o que contribui para elevados níveis de contaminação química e microbiológica, explicou. A ausência de um procedimento padronizado leva a que cada produtor utilize proporções variáveis de ingredientes – como cana-de-açúcar, melaço, caju ou outras frutas e restos de comida –, para “acelerar a fermentação e aumentar o teor alcoólico”.
Os limites legais recomendados de álcool no produto final, que devem variar entre 37,5% e 50%, dependendo da origem da aguardente, não são respeitados em geral. “Analisei aguardentes com teores fora deste intervalo”, explicou o autor de 21 anos, que foi tutorado pela professora Dulce Geraldo.
Aprovado com 20 valores
Proveniente de uma família de baixo poder económico, Gercílio foi criado pela mãe, professora do ensino básico, de quem herdou uma forte determinação para estudar. Aos 5 anos já a acompanhava até à escola onde esta trabalhava e depressa se destacou como excelente aluno. Para ajudar a custear os estudos, realizava pequenos trabalhos e vendia esteiras artesanais. Já no ensino superior, dava explicações a colegas em troca do empréstimo de um computador ou de algum dinheiro para comida. “Sei o que é passar o dia sem saber o que ia comer”, relatou.
Apesar dos contratempos, foi distinguido três vezes como o melhor estudante da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Púnguè. Conseguiu depois uma bolsa de mobilidade na UMinho para fazer o projeto de investigação da sua licenciatura em Ensino de Química. Obteve a nota máxima (20 valores) ao apresentar a monografia “Qualidade das Aguardentes Artesanais Moçambicanas (Nipas): Caracterização Físico-Química e Determinação Eletroanalítica de Cu(II)”.
“O que verdadeiramente distingue o Gercílio é o seu espírito resiliente e a sua postura inabalável perante as dificuldades”, afirmou Dulce Geraldo, para acrescentar: “Nunca se negou a um desafio, por mais exigente que fosse e aceitou sempre o que lhe foi pedido, com entusiasmo e responsabilidade, é um vencedor”.
Em Braga, o jovem participou ainda em jornadas científicas e com comunicações orais, reforçando o percurso académico. “Estar aqui resulta de muita fé, persistência e gratidão à minha mãe, que fez tudo para eu estudar”, afirmou. Gercílio Chichava já regressou às origens, mas espera voltar em breve, com uma bolsa de estudos, para prosseguir a formação na ECUM.
A produção artesanal de aguardentes em Moçambique pode representar um sério risco para a saúde pública. A conclusão é de Gercílio Luís Chichava, que analisou na Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM) amostras de aguardente tradicional – nipa, sope ou xindere – recolhidas nas províncias de Manica, Sofala e Gaza.
Fonte uminho