O fogo bacteriano, causado pela bactéria Erwinia amylovora, é uma doença devastadora que afeta principalmente pomares de fruteiras da família das rosáceas, como pereiras, macieiras e marmeleiros. Os primeiros sintomas surgem normalmente na primavera, e uma ação rápida é crucial para evitar perdas económicas significativas e a destruição total das culturas.

Como identificar o fogo bacteriano?
Fique atento aos seguintes sinais característicos:
- Ramos “queimados” e murchos: ramos jovens e pontas das plantas apresentam um aspeto chamuscado. As folhas ficam castanho-escuras ou negras, permanecendo secas e agarradas à planta, como se tivessem sido queimadas.
- Murcha e escurecimento de flores e frutos: flores e frutos jovens murcham repentinamente, tornando-se acastanhados ou pretos, e frequentemente permanecem aderidos à planta.
- Exsudado bacteriano pegajoso: em dias húmidos ou de manhã cedo, pode observar pequenas gotículas viscosas, de cor esbranquiçada a amarelo-âmbar, sobre a casca, ramos ou frutos infetados. Este exsudado, que contém milhões de bactérias, pode secar e formar crostas translúcidas.
- Lesões e cancros nos ramos: formam-se áreas deprimidas ou gretadas na casca (cancros) nos ramos e no tronco. O tecido abaixo da casca pode apresentar uma coloração acastanhada-avermelhada devido à infeção. Estes sintomas explicam o nome “fogo bacteriano”, pois a planta parece ter sido queimada. Qualquer suspeita exige uma ação imediata!
O que fazer em caso de suspeita? Aja imediatamente!
A rapidez na reação é fundamental para conter a doença.
- Comunique a suspeita de imediato: É obrigatório por lei. Em caso de suspeita de fogo bacteriano contacte a unidade regional da DGAV. A comunicação rápida permite que as autoridades atuem cedo, confirmem a doença e orientem as próximas ações.
Consulte aqui os contactos: Fogo Bacteriano Erwinia-amylovora_VF2.pdf - Restrinja movimentações para evitar dispersão: Não mova plantas ou partes infetadas do local. É proibido transportar material vegetal hospedeiro para fora da zona contaminada sem autorização oficial. Evite também introduzir ou mover colmeias de abelhas em pomares infetados entre 1 de março e 30 de junho, pois as abelhas podem disseminar a bactéria.
- Elimine imediatamente as plantas afetadas: Arranque e destrua todas as plantas doentes, especialmente as que apresentam sintomas no tronco (não é necessário esperar por confirmação laboratorial). Remova e destrua também ramos ou partes afetadas, cortando pelo menos 50 cm abaixo da última zona com sintomas visíveis. O material removido deve ser destruído em segurança, por exemplo, por queima controlada ou enterramento no local, conforme a legislação fitossanitária.
- Desinfete ferramentas e equipamentos: Após podar ou manusear plantas suspeitas/infetadas, desinfete cuidadosamente todas as ferramentas (tesouras, facas, serras, etc.) antes de as usar novamente. Utilize produtos adequados, como álcool a 70% ou lixívia diluída, entre cada corte e de uma planta para outra. Este procedimento é essencial para evitar a propagação da bactéria.
Produtos autorizados para o controlo
O controlo químico/biológico é limitado, mas existem opções:
- Produtos tradicionais: Produtos à base de cobre, fosetil de alumínio, prohexadiona de cálcio e laminarina podem ser usados preventivamente (por exemplo, tratamentos de cobre no repouso vegetativo ou pós-poda).
- Agentes biológicos de controlo: Produtos com leveduras como Aureobasidium pullulans e a bactéria Bacillus amyloliquefaciens estão homologados. Podem ser usados durante a floração para proteger as flores, que são uma via de infeção primária.
- Novo produto à base de bacteriófagos (PEA-02): Recentemente, foi concedida uma autorização excecional de emergência para o uso do produto PEA-02 na cultura da pereira. Este produto contém vírus específicos que infetam e destroem a Erwinia amylovora.
O PEA-02 deve ser aplicado por pulverização foliar, preferencialmente ao final da tarde/início da noite, para maximizar a sua eficácia. É crucial seguir as instruções do rótulo, pois a sua autorização é temporária e restrita.
Áreas atualmente consideradas contaminadas
Conforme o Despacho n.º 27/G/2022 da DGAV, várias regiões em Portugal estão oficialmente declaradas como zonas contaminadas, implicando a aplicação obrigatória das medidas de contenção. A designação é feita à escala da freguesia com ocorrência confirmada da doença.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, principal área de incidência, destacam-se:
- Concelhos com todas as freguesias contaminadas: Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Mafra, Nazaré, Óbidos, Rio Maior, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras. Estes são sobretudo concelhos do Oeste, uma grande região produtora de pomóideas como a Pera Rocha.
- Concelhos com contaminação parcial: Abrantes, Lisboa, Loures, Montijo, Palmela, Peniche, Ferreira do Zêzere, Sardoal, Sesimbra e Setúbal, com freguesias específicas afetadas.
É fundamental que os agricultores destas regiões consultem regularmente os comunicados da DGAV para se manterem informados sobre as restrições e a vigilância.
O incumprimento das medidas fitossanitárias oficiais constitui infração grave, sujeita a multas e à execução coerciva das ações pelas autoridades. A sua colaboração é essencial para proteger os pomares e conter a propagação desta doença destrutiva.
Mais informações AQUI.
O artigo foi publicado originalmente em DGAV.