A União Europeia (UE) exortou as potências do G20 a pressionarem a Rússia a voltar ao acordo de exportação de cereais da Ucrânia pelo Mar Negro, segundo uma carta do chefe da diplomacia europeia hoje divulgada pela agência AFP.
Na missiva enviada pelo alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, aos chefes da diplomacia do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo mais a UE), com data de segunda-feira mas só hoje conhecida, o bloco comunitário defendeu que o setor agrícola russo é o “principal beneficiário” da suspensão do acordo mediado pela ONU e pela Turquia, do qual Moscovo se retirou unilateralmente em meados de julho, provocando um aumento imediato dos preços dos cereais nos mercados.
A Rússia suspendeu o acordo após meses de críticas ao texto acordado, argumentando que os seus envios de produtos agrícolas e de fertilizantes estavam bloqueados pelas sanções ocidentais, impostas na sequência da invasão do território ucraniano em fevereiro de 2022.
Os preços mais elevados na aquisição de cereais faz com que esteja em causa a segurança alimentar em várias partes do mundo que dependem dos cereais da Ucrânia, nomeadamente os países africanos, de acordo com a UE e as Nações Unidas.
O acordo estava em vigor desde julho de 2022 e possibilitou a exportação através do Mar Negro de cerca de 33 milhões de toneladas de cereais, apesar do conflito em curso no território ucraniano.
A Ucrânia é um produtor de cereais crucial para o abastecimento de vários países.
“A Rússia beneficiará mais da subida dos preços dos produtos alimentares e aumentará a sua quota de mercado no mercado mundial dos cereais, limitando drasticamente a capacidade de exportação do seu principal concorrente”, sublinhou Borrell.
Na semana passada, durante a cimeira Rússia-África em São Petersburgo, o Presidente russo, Vladimir Putin, assegurou o fornecimento de cereais a vários países africanos.
Ao oferecer-se para fornecer cereais a preços reduzidos aos países vulneráveis, nomeadamente em África, a Rússia “finge resolver um problema que ela própria criou”, acrescentou Borrell.
“Trata-se de uma política cínica de utilização deliberada dos alimentos como arma para gerar novas dependências, exacerbando as vulnerabilidades económicas e a insegurança alimentar mundial”, insistiu o chefe da diplomacia europeia.
Perante tal cenário, Josep Borrell pediu ao G20 para pressionar Moscovo a regressar ao acordo, mas também a acabar com os ataques a infraestruturas agrícolas na Ucrânia.
De acordo com os relatos dos últimos dias, ataques com ‘drones’ russos (aparelhos aéreos não tripulados) visaram estruturas portuárias ucranianas no Danúbio, encaradas como cruciais para as exportações.
A próxima cimeira do G20 está agendada para Nova Deli, Índia, para 09 e 10 de setembro deste ano.