Bélgica, 15 de Junho de 2018. Um jovem agricultor de 32 anos foi encontrado morto por sua mãe. Tinha sido atingido por uma vaca que tentou imobilizar sozinho para poder fazer um tratamento, pois o animal estava doente. A notícia, simples, sem grandes detalhes, foi publicada no site da RTL info às 20.16 desse dia. Às 23:48 havia 254 comentários, dois dias depois restavam 67. Os restantes foram entretanto bloqueados pelo site informativo em respeito aos familiares (ou apagados pelos autores com remorsos). Eram comentários de ódio de vegetarianos radicais, mais conhecidos por “vegans”, que acharam muito bem a “vingança” da vaca contra o seu criador que, sublinho, a tentava tratar.
França, 23 de Março de 2018. Christian Medves, 50 anos, casado e com dois filhos, foi morto por um radical islâmico que atacou o supermercado onde trabalhava como talhante. Três dias depois, uma cidadã francesa, vegan, publicou uma mensagem no facebook a celebrar a morte de Christian nestes termos: “É chocante que um assassino seja morto por um terrorista? Eu não acho, não tenho compaixão por ele, a justiça foi feita”. Foi acusada do crime de “apoio ao terrorismo” e condenada a 7 meses de prisão com pena suspensa.
Inglaterra, Janeiro de 2018. Em Suffolk, Jonathan Crickmore, dono de uma quinta de produção de leite e queijaria artesanal, publicou no instagram uma foto dos vitelos trigémeos recém-nascidos, um acontecimento raro. Ativistas vegans replicaram a foto em grupos dos Estados unidos e durante 5 dias o criador inglês recebeu centenas de mensagens horríveis com ameaças de morte a si, à esposa e aos filhos. Não adiantou explicar que na sua quinta os vitelos não são abatidos à nascença nem vendidos, são criados em liberdade até à idade adulta e as fêmeas incluídas no rebanho. Esteve sob proteção policial e dos vizinhos, apagou a publicação e comentários associados e passou à frente, tendo recebido o apoio de amigos e clientes.
Felizmente para Jonatham, não foi contra si que Nasim Aghdam dirigiu a sua fúria. A 3 de Abril, a Youtuber e ativista vegan invadiu a sede do Youtube na Califórnia, Estados Unidos e feriu várias pessoas antes de se suicidar. Queixava-se que os seus vídeos sobre o veganismo estavam a ser discriminados e não eram promovidos pelo Youtube.
Desenganem-se, contudo, se pensam que este ataque fundamentalista se limita ao bullying via internet. Gina Gutierres, do México, em artigo publicado em Abril passado na Howards Dairyman em Espanhol, relatou casos de vegans que entraram em restaurantes para incomodar os clientes que comiam carne ou de um ativista que acusou um locutor de rádio de estar a comer pão com “carne de um animal que não queria morrer”, ou seja, presunto e, pior, acompanhado do “produto que veio de uma mãe que teve crias que lhe foram roubadas ao nascer e que foram produto de uma violação”, ou seja, queijo.
Não deixa de ser absurdo que esta violência contra criadores de animais, talhantes e restantes elementos da cadeia “do prado ao prato” resulte da compaixão pelos animais que os vegans dizem sentir. É um contrassenso, mas essa violência faz parte de todos os fundamentalismos e radicalismos e, no fundo, é o resultado da insegurança que sentem e da necessidade que tem de conquistar o “outro” para a sua causa, de modo a reforçar a sua crença de uma forma desesperada.
Estou consciente que nem todos os vegetarianos são vegans, que nem todos os vegans são ativistas a querer converter o resto do mundo à sua crença e nem todos os ativistas são fundamentalistas agressivos. Sublinho que, por norma, os dirigentes do movimento vegan rejeitam e condenam a violência. Mas a forma como atacam constantemente a pecuária, as mentiras ou meias-verdades que repetem constantemente, divulgando coisas que viram em documentários ou leram na internet, sem confirmar a veracidade ou procurar perceber razões e lógica dos procedimentos, tornam-nos responsáveis como instigadores da violência de pessoas mais influenciáveis e fanáticas que existem em todos os grupos.
O termo “vegan” surgiu em 1944, a partir de uma divergência do vegetarianismo. O consumo de carne é um bocadinho mais antigo. Não há uma data marcada na história, mas estima-se que tenha começado um milhão de anos atrás, através da caça, com vantagens face à dieta vegetariana de então, que terá levado ao desenvolvimento do cérebro das populações que adotaram essa prática. A agricultura surgiu há cerca de 12.000 anos e por essa altura foram domesticados a cabra e a ovelha, para obter leite, carne e a pele para vestuário. Os 74 anos do movimento vegan são apenas um ponto na linha do tempo face aos 12.000 anos da pecuária ou ao milhão de anos de consumo de carne. Além disso, surgem sinais que o veganismo pode ser uma moda passageira que perde força à medida que os seus adeptos começam eles próprios a dividir-se em várias tendências ou abandonam a experiência de vida radical. Multiplicam-se os testemunhos de ex-activistas vegans que mostram a força da nossa natureza omnívora sobre uma ideologia que a tenta contrariar. Mas, até lá, o ódio semeado contra a pecuária pode fazer mal a muita gente que trabalha para alimentar a humanidade e pode fazer mal ao equilíbrio de séculos de ecossistemas agropecuários.
Respeito a liberdade de cada um se alimentar como melhor entender, desde que não coloque em risco a sua saúde ou dos seus filhos, mas não aceito que queiram impor o seu pensamento ao resto da população, seja através de ameaças no facebook ou de leis contra o presunto ou o leite achocolatado que sub-repticiamente vão atacando a pecuária até à proibição e extinção total que desejam, porque é isso que eles querem! Convém que todos os agricultores, veterinários, zootécnicos ou quaisquer cidadãos apreciadores de carne, peixe ou da liberdade, estejam conscientes disto, que não se deixem iludir por discursos bonitos sobre animais abandonados na campanha eleitoral, que estejam vigilantes e não deixem passar as sucessivas tentativas de acabar gradualmente com toda a pecuária, levando os animais para santuários vegan que precisarão de donativos para se sustentar.
Carlos Neves
Agricultor e Produtor de Leite