As vindimas de 2020 não param com a pandemia de Covid-19. Os produtores definiram planos de contingência, seguindo as directrizes da Direcção-Geral de Saúde (DGS), mantendo a protecção e o distanciamento entre os trabalhadores, além de reforçarem as medidas de desinfecção da maquinaria utilizada. E a mão-de-obra não tem faltado, garantem os produtores à Agricultura e Mar Actual.
É neste “novo normal” que seguem as vindimas, com os produtores das regiões do Douro, dos Vinhos Verdes e do Alentejo a esperarem aumentos de produção de uva entre os 8% e os 15%.
Na Região dos Vinhos Verdes, a Casa de Vilacetinho, produtor histórico da Sub-Região de Amarante, situada em Alpendurada sobre o Rio Douro, tem boas perspectivas “a produção deve crescer entre 10 a 15%”.
A vindima na Casa de Vilacetinho começou dia 31 de Agosto e tem como previsão 3 a 4 semanas de duração. “No que toca à produção, estimamos que as vinhas velhas se comportem de modo igual ou ligeiramente superior ao ano anterior, mas deverá verificar-se um aumento nas vinhas novas, pois começam a aumentar de produtividade com a idade. Em termos gerais, a produção deve crescer entre 10 a 15%”, diz João Miguel Maia, managing director da Casa de Vilacetinho.
E explica que “este ano agrícola caracterizou-se por um Inverno seco e uma Primavera fria e chuvosa na região, o que pode ter prejudicado um pouco o desenvolvimento da uva. No entanto, o Verão foi muito quente, mas o crescimento gradual de temperaturas fez-se sentir numa fase tardia e já com muita floração, pelo que não houve incidentes graves como escaldão, mas criando algum stress hídrico. Cremos que esta colheita tem potencial para ser um excelente, com mostos equilibrados e com boa produção – estas chuvas de final de pré-vindima irão ajudar a encher ainda mais os cachos”.
A Casa de Vilacetinho conta com 30 pessoas para a vindima manual. “Conseguir mão-de-obra para a vindima tem sido um problema de ano para ano. No entanto, recorremos normalmente às mesmas pessoas que nos ajudam e colaboram o ano inteiro, pelo que esse processo fica facilitado”, diz João Miguel Maia, acrescentando que a mão-de-obra é principalmente do Marco de Canavezes e concelhos vizinhos, mas também alguns de municípios mais do interior. “Temos, ainda, cada vez mais pedidos de estrangeiros que querem fazer parte desta altura do ano”.
Região do Alentejo
Já na Região dos Vinhos do Alentejo, a Quinta da Plansel, o maior empregador de Montemor-o-Novo, dedicado a uma enologia assente no estudo das castas endémicas, começou a vindima pelas castas brancas, mais precisamente o Gouveio.
Dentro de uma semana, atingirá o pico de trabalhos na vinha, quando começar a colheita das castas tintas, mais expressivas nos vinhos do produtor (70% das vinhas da propriedade estão destinadas à Touriga Nacional e à Tinta Barroca).
Sobre a quantidade de produção, Dorina Lindemann, enóloga e administradora da Quinta da Plansel, espera “superar em mais de 10% os 500.000 kg de uvas de 2019, estando alinhados com a tendência geral da região do Alentejo que também espera aumento de quantidade”.
Em termos de expectativas de qualidade, Dorina Lindemann diz que 2019 “já foi um vinho particularmente bom para os tintos, mas 2020 promete o mesmo nível, ou talvez ainda melhor”.
Na Quinta da Plansel, 60% da vindima é feita à mão, pela equipa tradicionalmente dedicada aos Viveiros Plansel. Os restantes 40% da vindima são feitos automaticamente pela Vindimor Plansel, segmento do grupo dedicado à maquinaria de viticultura
Sociedade Agrícola de Pias
Ainda no Alentejo, na Sociedade Agrícola de Pias, produtor alentejano embaixador da emblemática região de Pias, “a nossa vindima começou em Julho, dia 17, com alguma uva da casta Chardonnay, cada vez mais precoce no Alentejo, e já não parou, continuámos com Verdelho e Arinto. As castas tintas começaram a ser vindimadas no dia 13 de Agosto, Aragonês, e podemos considerar que entrámos em velocidade cruzeiro no passado dia 20, dia em que vindimámos também algum Alfrocheiro e alguma Trincadeira para Rosé”, diz Renato Neves, responsável pela enologia e viticultura da SA Pias.
E acrescenta: “não prevemos abrandamentos, pensamos que a vindima vai ser rápida, uma vez que a maioria das castas já tem a maturação terminada, à excepção do Sousão, Cabernet-Sauvignon e Alicante-Bouschet. Contamos que nas próximas 3 semanas esteja tudo vindimado”.
Na Sociedade Agrícola de Pias, as maturações nas castas brancas foram boas e, apesar da acidez um pouco abaixo dos padrões das castas, há bom potencial de frescura aromática em todas elas.
“Já nas tintas não consideramos para já que seja um ano excepcional de forma geral, em termos qualitativos. Há alguns talhões que apresentam maturações com enorme potencial para vinhos de guarda, mas a grande maioria apresenta um potencial médio já que as maturações não foram completas. Registamos também nas tintas acidez abaixo dos padrões das castas e um potencial alcoólico também abaixo da média dos últimos anos”, salienta Renato Neves.
Do ponto de vista quantitativo, 2020 “é um ano de produções ligeiramente acima da média, sendo os talhões de castas brancas os mais generosos no que a variação anual diz respeito”, acrescenta aquele enólogo, frisando que “todos os anos são diferentes e o desafio é esse mesmo, há que tirar o maior proveito possível da uva de qualidade, e minimizar alguns aspectos menos bons da uva com menor potencial. Para conseguir vindimar os 1.400.000kG de uva que prevemos produzir em 2020, mais 8% que em 2019, contamos com uma vindimadora própria e com 22 pessoas divididas em duas equipas para vindimar à mão”.
Região do Douro
Mais a Norte, as vindimas continuam também no Douro. Na Quinta do Crasto, produtor localizado na margem direita do Rio Douro, no concelho de Sabrosa, com uma propriedade com cerca de 130 hectares, dos quais 75 são ocupados por vinhas, o enólogo Manuel Lobo prevê para 2020 prevê uma quebra de produção “na ordem dos 15%, mas ainda é muito cedo para avaliar”.
“Ainda é muito cedo para avaliar, no entanto as uvas têm entrado em excelentes condições sanitárias e com bom equilíbrio, o que indica um bom potencial”, afirma o enólogo da Quinta do Crasto, lembrando que a meio de Agosto “choveram no crasto 6 litros/m2 (6 mm), que foi muito importante para ajudar o afinamento da maturação das uvas, em especial as vinhas de cotas mais baixas e com exposições a Sul e poente que estavam mais stressadas, devido as elevadas temperaturas que se fizeram sentir durante o mês de Julho e início de Agosto”.
Com a entrada na segunda quinzena de Agosto vieram também as noites mais frescas. Amplitudes térmicas mais significativas entre a noite e o dia, “mas sobretudo um enorme alento para as videiras poderem amadurecer as suas uvas em grande equilíbrio. Temos tudo reunido para ter uma excelente vindima, vamos esperar que a natureza nos ajude” acrescenta Manuel Lobo.
Mão-de-obra suficiente
No que diz respeito à mão-de-obra, esta não tem faltado. Segundo Pedro Soares, administrador delegado da Quintas de Melgaço, produtor com mais de 530 famílias melgacences accionistas e um dos grandes embaixadores de Alvarinho em Portugal, “de um modo geral, as pessoas parecem mais receosas, mas os números de mão-de-obra mantiveram-se relativamente semelhantes aos anos anteriores. A maior parte é de Melgaço. Assistimos, aliás, a uma entreajuda notável, porque os accionistas/produtores da Quintas de Melgaço contam com os parentes que tiram férias nesta época para ajudar a vindimar a vinha da família”.
No Alentejo, também Renato Neves, responsável pela enologia e viticultura da SA Pias, garante: “não encontrámos qualquer dificuldade pois temos nos nossos quadros grande parte da mão-de-obra necessária. A mão-de-obra é 100% natural dos concelhos de Serpa e Moura”.
Já na Região do Douro, o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, refere que “começámos a vindima no dia 17 de Agosto e nesta fase inicial ainda não temos sentido qualquer problema com mão de obra. Sentimos até que existe mais disponibilidade comparativamente à vindima de 2019. No entanto, como no Douro ainda estamos numa fase inicial da vindima, é possível e provável que a disponibilidade diminua com o aproximar do pico da vindima. Temos trabalhado sempre com mão de obra local”.
O artigo foi publicado originalmente em Agricultura e Mar.