A Câmara de Vale de Cambra aprovou a compra da antiga fábrica Martins & Rebello por 2,3 milhões de euros para aí criar o Museu Nacional dos Laticínios, revelou hoje o vereador socialista no executivo liderado pelo CDS-PP, Tiago Fernandes.
A liderança da câmara não quis prestar esclarecimentos sobre a aprovação da compra a 02 de setembro, mas o vereador da oposição indicou que a aquisição ainda aguarda a aprovação do Tribunal de Contas, estando em causa uma unidade industrial de 16.946 metros quadrados que, em São Pedro de Castelões, naquele concelho do distrito de Aveiro, está desativada desde 2001 e pertence atualmente à Indulac – Indústrias Lácteas S.A.
Mediante um empréstimo bancário destinado apenas à compra do imóvel, já que o investimento atual não abrange a requalificação física dos diversos espaços da propriedade nem a criação de conteúdos museológicos, a autarquia liderada pelo CDS-PP quer assim preservar um espaço que “possui valor histórico e cultural significativo” enquanto “polo de desenvolvimento do setor lácteo entre 1906 e 1986”.
O prazo para execução do projeto está estipulado no contrato de compra e venda a que a Lusa teve acesso: “No caso de o município, no prazo de 12 anos a contar da assinatura da escritura, não concluir a execução integral da obra do Museus dos Laticínios, a Indulac terá o direito de retomar a propriedade do imóvel, mediante a entrega do preço contratual em singelo”.
O mesmo documento define ainda: “Nesse caso, o município compromete-se a alterar o Plano Diretor Municipal, passando o uso do solo para espaço habitacional, de acordo com a envolvente da área onde o imóvel se encontra, (…) e fazendo-o aprovar quer no executivo, quer em sede de assembleia municipal”.
Se o projeto avançar nos termos previstos pela autarquia, contudo, o objetivo da câmara é instalar no imóvel não apenas o museu, mas também um centro de formação profissional de cariz secundário e pré-universitário e uma incubadora de empresas focada no desenvolvimento de atividades de “inovação, experimentação e empreendedorismo”.
A compra da antiga Martins & Rebello foi aprovada pelos cinco eleitos do CDS-PP do executivo municipal e pelo vereador socialista Tiago Fernandes, com a abstenção do social-democrata Frederico Martins.
Em declarações à Lusa, o eleito do PS justifica o seu apoio ao projeto: “Se há uma meta a cumprir, que seja 2030, data em que se comemoram os 100 anos sobre o primeiro queijo flamengo produzido em Portugal em formato industrial, aqui mesmo em Vale de Cambra. Foi a partir daí que o nosso concelho serrano se começou a afirmar na indústria de laticínios, pelo que é altura de, com este projeto, Vale de Cambra retomar a linha da frente na história do setor, voltar a impulsionar a economia, a criar valor e riqueza”.
Realçando que “é quase mecenático o valor que a atual família Rebelo aceitou pelo negócio, face ao muito mais alto valor de mercado do imóvel”, o vereador socialista afirma depois que, mesmo após as eleições e eventuais mudanças de cargos, se deve manter “o consenso partidário para o investimento final no museu”, que está estimado em “15 a 20 milhões de euros” e pode potenciar “toda a reorganização urbanística daquela zona, inclusive com um hotel também afeto à antiga Martins & Rebello”.
Tiago Fernandes realça, no entanto, “a importância de a Divisão Financeira da câmara, em conjunto com o Gabinete de Planeamento, elaborar um estudo de impacte económico-financeiro sobre o investimento” em questão, para melhor se avaliar o impacto da compra do imóvel no orçamento municipal e se antecipar o custo das várias fases da intervenção e da futura manutenção dos seus equipamentos.
Quanto ao vereador do PSD Frederico Martins, na sua declaração de voto explica que optou pela abstenção, “não porque seja contra a aquisição das instalações da Martins & Rebello, pelo contrário”, mas porque o negócio, nos moldes atuais, prevê a mencionada condicionante de o município ter 12 anos para executar todo o projeto, sob pena de a propriedade regressar aos donos originais.
“No meu entendimento, sejam quais forem os órgãos do executivo municipal, os chefes de divisão em funções ou outras condicionantes não descritas, assume-se um risco considerável e o município deveria aprovar o documento sem essa cláusula”, justifica.