“Um vinho que não se quer perfeito, mas simbólico”. É desta forma que a Sogrape descreve o Legado, um produto com origem numa vinha centenária da Quinta do Caêdo e “sonhado” em 2008 pelo patriarca da família, Fernando Guedes, para ser “uma expressão máxima de ‘terroir’ numa homenagem ao tempo e à passagem de testemunho”.
A colheita de 2014, que resultou na produção de 4.795 garrafas, é a sétima edição deste vinho que celebra as raízes da maior companhia portuguesa de vinhos. Apresentada esta quinta-feira, 11 de abril, na Casa de Serralves (Porto), tem uma carga simbólica reforçada, já que é a primeira a ser lançada sem a presença física do histórico líder da empresa – filho primogénito do fundador Fernando van Zeller Guedes e pai do atual CEO –, que morreu a 20 de junho de 2018, quando tinha 87 anos.
“Para o meu pai, Legado sempre foi mais do que um vinho. Levou tempo a nascer e foi pensado com todo o cuidado. (…) Um dos três primeiros enólogos em Portugal, e verdadeiro homem da terra, o meu pai foi incapaz de ficar indiferente a uma vinha centenária com potencial para criar um vinho que pudesse, de alguma forma, eternizar os saberes, valores e paixão herdados de meu avô”, frisa Fernando da Cunha Guedes, o filho mais novo, que em 2015 se tornou o quarto presidente e o terceiro Fernando a sentar-se na cadeira do poder.
Para o meu pai, Legado sempre foi mais do que um vinho. Levou tempo a nascer e foi pensado com todo o cuidado. Fernando Cunha Guedes, presidente executivo da Sogrape
Situada a montante do Pinhão, em Ervedosa do Douro, a Quinta do Caêdo foi comprada pela Sogrape em 1990. Tem um total de 24 hectares de vinha, mas as uvas que são aproveitadas para o Legado são provenientes de apenas oito hectares de vinhas velhas, vindimadas à mão, sendo que muitas videiras dão apenas um ou dois cachos, estimando-se uma produção média inferior a 0,5 quilos por cepa.
Além das clássicas variedades Touriga Franca e Touriga Nacional, uma recente pesquisa no terreno identificou nesta parcela várias outras castas, como Rufete, Tinta Amarela, Sousão, Tinta da Barca, Tinta Roriz, Tinto Cão ou Donzelinho. Sempre pela mão do enólogo Luís Sottomayor, o Legado foi vinificado na adega da Quinta da Leda, no Douro Superior, e depois finalizado nas caves em Vila Nova de Gaia, onde estagiou dois anos em barricas novas de carvalho francês.
Com produção de vinho nas regiões portuguesas do Douro, Verdes, Dão, Bairrada, Alentejo, Madeira e, desde janeiro deste ano, também em Lisboa – entrou na antiga zona da Estremadura com a aquisição da Quinta da Romeira –, a Sogrape tem também operações produtivas espalhadas por Espanha (LAN e Bodegas Aura), Argentina (Finca Flichman), Chile (Viña Los Boldos) e Nova Zelândia (Framingham), além de seis empresas de distribuição em mercados-chave para o desenvolvimento do negócio.
Detentora de marcas como Mateus Rosé, Ferreira, Sandeman ou Barca Velha, esta multinacional com sede em Vila Nova de Gaia fatura acima de 215 milhões de euros e regista vendas em mais de 120 países. Emprega cerca de mil trabalhadores e tem mais de 1.500 hectares de vinha plantada – mais de metade localizada em Portugal –, comercializando uma média de 135 garrafas de vinho por minuto.