O fogo bacteriano, provocado pela bactéria Erwinia amylovora, está a preocupar os produtores de fruta em Portugal, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, com especial incidência na zona Oeste, uma das principais áreas frutícolas do país.
A doença, altamente destrutiva, afeta sobretudo pomares de pereiras, macieiras e marmeleiros, com os primeiros sintomas a surgirem na primavera. Uma resposta rápida é essencial para evitar prejuízos económicos graves e a perda total das culturas, alertou a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Como identificar?
Entre os sintomas mais visíveis estão os ramos com aspeto “queimado”, folhas secas, castanhas ou negras que permanecem agarradas à planta, mesmo após murcharem. As flores e frutos jovens também podem apresentar sinais de murchidão e escurecimento, mantendo-se frequentemente presos aos ramos.
Em condições de humidade, é possível observar um exsudado bacteriano pegajoso, com gotículas esbranquiçadas a amarelo-âmbar sobre a casca, ramos ou frutos afetados. Este líquido viscoso contém milhões de bactérias e, ao secar, forma crostas translúcidas — um sinal claro de infeção.
Outro indicador grave são os cancros nos ramos e tronco, onde a casca apresenta zonas deprimidas, gretadas ou descoloradas. A coloração interna, acastanhada-avermelhada, confirma a presença da bactéria. O aspeto geral da planta — como se tivesse sido queimada — justifica o nome da doença.
Como atuar em caso de suspeita?
Perante a suspeita de fogo bacteriano, a rapidez na resposta é essencial para conter a propagação da doença e minimizar os impactos económicos, frisa a DGAV. A comunicação imediata às autoridades competentes é obrigatória por lei e constitui o primeiro passo para uma atuação eficaz.
Neste sentido, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária recomenda que, ao menor sinal da doença, os produtores contactem de imediato a respetiva unidade regional. Uma denúncia rápida permite às autoridades confirmar a presença da bactéria Erwinia amylovora, implementar medidas de contenção e orientar os passos seguintes no terreno.
Enquanto se aguarda pela intervenção oficial, é fundamental restringir a movimentação de plantas ou partes infetadas, de modo a evitar a disseminação do agente patogénico. É proibido transportar material vegetal hospedeiro para fora da zona afetada sem autorização.
Outra medida indispensável é a remoção e destruição imediata das plantas doentes. Nos casos em que os sintomas atingem o tronco, não é necessário aguardar confirmação laboratorial: a planta deve ser eliminada. Ramos afetados devem ser cortados com uma margem mínima de 50 cm abaixo da última zona com sintomas visíveis. O material retirado deve ser destruído em segurança, através de queima controlada ou enterramento, conforme previsto na legislação fitossanitária em vigor.
Por fim, a desinfeção rigorosa de ferramentas e equipamentos utilizados em plantas suspeitas ou infetadas é crucial. Tesouras, serras ou facas devem ser limpas entre cada corte e de uma planta para outra, utilizando produtos como álcool a 70% ou lixívia diluída.
Quais as áreas atualmente consideradas contaminadas?
A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a mais afetada pelo fogo bacteriano, com especial incidência na zona Oeste, uma das principais áreas de produção de pomóideas como a Pera Rocha.
De acordo com os dados mais recentes, há 15 concelhos com todas as freguesias contaminadas, nomeadamente: Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Mafra, Nazaré, Óbidos, Rio Maior, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras. Estes concelhos concentram grande parte da produção frutícola nacional e estão sob vigilância reforçada.
Para além destes concelhos, foram identificados casos de contaminação parcial em Abrantes, Lisboa, Loures, Montijo, Palmela, Peniche, Ferreira do Zêzere, Sardoal, Sesimbra e Setúbal, onde apenas algumas freguesias apresentam focos ativos da doença.
Que produtos são autorizados para o controlo?
Embora o controlo químico e biológico do fogo bacteriano seja limitado, existem opções autorizadas. Entre os produtos tradicionais, destacam-se os à base de cobre, o fosetil de alumínio, a prohexadiona de cálcio e a laminarina, que podem ser aplicados de forma preventiva, sobretudo durante o repouso vegetativo ou após a poda. Estes tratamentos visam reduzir a carga bacteriana e proteger os tecidos expostos.
No campo do controlo biológico, estão autorizados produtos com microorganismos benéficos, como a levedura Aureobasidium pullulans e a bactéria Bacillus amyloliquefaciens. A sua aplicação durante a floração é particularmente importante, pois as flores representam uma porta de entrada primária para a bactéria.
Uma das novidades mais relevantes é a autorização excecional de emergência do produto PEA-02, específico para a cultura da pereira. Este produto inovador utiliza bacteriófagos — vírus naturais que atacam exclusivamente a bactéria Erwinia amylovora.
A DGAV explica que o PEA-02 deve ser aplicado por pulverização foliar, preferencialmente ao final da tarde ou início da noite, horários em que a eficácia é maximizada. A utilização deve seguir rigorosamente as indicações do rótulo, uma vez que a autorização é temporária e com restrições específicas.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.