“Já existe em Portugal uma matriz comum de avaliação da eficiência do uso da água e da energia em sistemas urbanos de abastecimento de água, desenvolvida pelo LNEC. A FENAREG entendeu ser de todo o interesse juntar-se a estes e outros investigadores para desenvolver uma matriz que se aplique aos usos agrícolas, avaliando de modo uniforme os sistemas das redes primária e secundária de distribuição de água para a agricultura. Esperamos que no futuro esta matriz possa ser aplicada a todos os Aproveitamentos Hidroagrícolas a nível nacional”, afirma José Núncio, presidente da FENAREG, resumindo o objetivo do projeto AGIR- Avaliação da Eficiência do Uso da Água e da Energia em Aproveitamentos Hidroagrícolas, cujos resultados preliminares foram apresentados, a 3 de outubro, em Lisboa, no LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
O Grupo Operacional AGIR visa apoiar a tomada de decisão planeada e sustentada das Entidades Gestoras dos Aproveitamentos Hidroagrícolas (e.g., Associações de Regantes) para melhorar a eficiência do uso da água e da energia. No workshop do primeiro ano do projeto foram apresentadas as métricas do balanço hídrico e do balanço energético desenvolvidas pelos investigadores e os resultados da sua aplicação em 3 associações de regantes: ABORO – Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas; ARBVS – Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia e ABOVIGIA – Associação de Beneficiários da Obra da Vigia.
Os resultados preliminares indicam que as perdas físicas ou reais de água (devidas a fugas e roturas nas condutas em pressão ou por repassos e descargas em canais e reservatórios) podem atingir os 35% do total das perdas nos sistemas de transporte e distribuição de água para rega.
“Em geral as perdas de água nas redes de distribuição de água para agricultura estão muito relacionadas com a antiguidade de alguns sistemas. Há necessidade urgente de reabilitar as infraestruturas antigas e de melhorar a sua eficiência operacional, o que deve começar com uma melhor monitorização de caudais e dos níveis para otimização do controlo de toda a operação do sistema”, explica Dália Loureiro, técnica do LNEC.
Benefícios para os agricultores
Os agricultores regantes vão beneficiar do sistema de avaliação criado no âmbito do AGIR, estando prevista a criação de um Manual de Boas Práticas de uso eficiente da água e da energia ao nível da parcela regada (rede terciária).
“Embora existam em Portugal algumas estações elevatórias antigas com rendimentos muito baixos, o principal problema é a energia que estas infraestruturas gastam a mais na bombagem, porque existe um elevado volume de perdas de água no sistema. Medindo e identificando as perdas de água, podemos atuar para corrigir e com isso reduzir os gastos energéticos”, explica Dália Loureiro, técnica do LNEC.
“A nossa intenção é alargar este trabalho a outros perímetros hidroagrícolas, ajudando-os a ser mais eficientes no uso da água e da energia e com isso reduzir o peso do custo do serviço de distribuição de água aos agricultores”, resume Carina Arranja, secretária-geral da FENAREG.
O projeto AGIR é coordenado pela FENAREG e teve início em 2017, com duração de 3 anos, sendo financiado pelo PDR2020, na Operação 1.0.1 – Grupos Operacionais.
Da parte da investigação participam neste Grupo Operacional: LNEC, Universidade de Évora, Instituto Politécnico de Setúbal; Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária; Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio. Estão envolvidas 3 entidades gestoras de Aproveitamentos Hidroagrícolas: ABORO – Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas; ARBVS – Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia e ABOVIGIA – Associação de Beneficiários da Obra da Vigia – e 3 agricultores: Sociedade Agrícola Bico da Vela II; AGRO-VALE Longo, Lda e Mencoca Agricultura, Lda.