Depois do voo de helicóptero, na semana passada, sobre áreas ardidas em 2017, Paulo Rangel voltou hoje à questão da floresta e da prevenção de fogos, mas com os pés bem assentes na terra. O voo sobre a Lousã acabou por fazer ricochete sobre a campanha do PSD, e esta terça-feira o cabeça de lista do PSD não hesitou em meter os sapatos pretos de fivela pelos terrenos arenosos do Pinhal de Leiria. Uma “floresta negra” onde “está tudo ao abandono”, denunciou o eurodeputado social-democrata.
Acompanhado do sub-comandante dos bombeiros da Marinha Grande (concelho onde arderam 10 mil hectares de mata nacional nos fogos de outubro de 2017), Rangel ouviu queixas sobre falta de pessoal do Instituto das Florestas, reflorestações apressadas que correram mal, madeira ardida que continua no terreno, verbas que chegam tarde e planos que tardam em concretizar-se. “A minha preocupação enquanto operacional é que se a gestão for idêntica à de 2003, vamos ter problemas daqui a cinco ou dez anos”, confessou o comandante Mário Silva, recordado de um grande fogo em 2003 que potenciou os efeitos dos incêndios de 2017.
“A situação do Pinhal de Leiria é catastrófica”, sentenciou Rangel, acusando o Governo de ter permitido “uma espécie de bomba relógio” em 2017, sem nada ter feito “para prevenir e evitar essa situação”. E de estar outra vez a falhar na prevenção.
“Não há execução”
Passados dois anos, diz o social-democrata, “há planeamento de reflorestação, mas não há nada no terreno”. Da mesma forma que, em relação ao combate aos fogos, “metade dos meios aéreos continua no chão”, na vertente da prevenção, “apesar de haver planos do Iinstituto de Conservação da Natureza e Florestas, esses planos não estão no terreno. Mais uma vez, é um problema típico do governo PS: não há execução. É como nos fundos comunitários – há previsões mas não há execução.”
A campanha de Rangel continua mais focada no ataque ao Executivo do que nas questões europeias, e não faltaram acusações de “incúria”, “incapacidade”, “omissão, passividade e inércia do Governo”. “Nós sabemos o que é preciso fazer mas o Governo do PS não tem nenhuma capacidade nem competência para intervir”, declarou Rangel.
PSD também falhou na prevenção
Apesar do foco na oposição interna, Paulo Rangel admitiu que também os governos do PSD falharam na prevenção e no ordenamento da floresta – afinal, os anos de inércia entre 2003 e 2017 referidos pelo comandante dos bombeiros da Marinha Grande também abrangem os governos de Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho.
“No médio prazo há com certeza um problema estrutural do país relativamente à floresta, aí não ponho em causa que, do ponto de vista do ordenamento, todos têm alguma responsabilidade”, admitiu o cabeça de lista do PSD. Mas ficou por aí o mea culpa. “Na dimensão do curto prazo, de combate aos incêndios”, acrescentou, “os governos do PSD demonstraram sempre maior capacidade do que os do PS.”