O grupo parlamentar do Partido Socialista (PS) pediu esclarecimentos ao Governo sobre o impacto do encerramento do último lavadouro industrial de lã existente em Portugal, localizado na Guarda, e quais as medidas em curso de apoio à fileira da lã.
Numa pergunta entregue na Assembleia da República e dirigida aos ministros da Economia e Coesão Territorial e da Agricultura e Mar, a que a agência Lusa teve acesso, os deputados socialistas querem conhecer quais “os fundamentos técnicos, ambientais ou administrativos” que estiveram na origem do fecho desta unidade.
A empresa Têxtil Tavares, na Guarda, alegou ter sido forçada a encerrar o último lavadouro de lãs do país com capacidade industrial após a Câmara Municipal ter decidido tamponar o coletor da ETAR (estação de tratamento de águas residuais) daquela unidade industrial, em fevereiro de 2025.
“Que avaliação faz o Governo dos impactos económicos, sociais e ambientais decorrentes do encerramento desta unidade, nomeadamente sobre a fileira da lã, o emprego local e a valorização da produção ovina nacional?”, é outra questão colocada.
Os eleitos do PS perguntam ainda que diligências estão a ser tomadas para assegurar “a manutenção ou reposição” da capacidade industrial de lavagem de lã em Portugal.
Isto porque o fecho do último lavadouro industrial de lã representa “uma situação de especial gravidade” para o setor.
“A fileira lanífera nacional perde a sua única unidade industrial de lavagem de lã bruta. Tal facto deixa o país dependente do exterior para uma fase essencial do processo produtivo, com consequências diretas na competitividade, nos custos de produção e na capacidade de valorização da lã portuguesa”.
Subscrita por deputados eleitos pelos círculos da Guarda, Castelo Branco, Beja, Bragança, Leiria e Santarém, o requerimento lembra a “importância económica, social e ambiental” da lã, nomeadamente nas regiões do interior, onde a ovinicultura constitui uma “atividade central para a economia local, a ocupação do território e a preservação da paisagem”.
Contudo, o setor tem enfrentado, nos últimos anos, “grandes constrangimentos estruturais”, como o baixo preço pago aos produtores, a falta de infraestruturas de transformação e lavagem, a carência de mão-de-obra especializada e o aumento dos custos de produção.
“A ausência de políticas públicas eficazes de valorização tem contribuído para o progressivo enfraquecimento da fileira, com impacto direto no rendimento dos produtores e na sustentabilidade económica das explorações ovinas”, sustentam.
Lembram, também, que a Assembleia da República aprovou, por iniciativa do PS, uma resolução que recomenda ao Governo que proceda “às diligências necessárias à reativação da fileira da lã, designadamente através da criação de incentivos à reativação das indústrias ligadas ao setor”.
A resolução defende, ainda, “o reforço do papel do Centro de Competências para a Lã, a promoção da investigação e formação profissional específica”.
Para os socialistas, o fecho do lavadouro de lã da Guarda pode comprometer a execução das medidas previstas nesta resolução e a continuidade de uma fileira “com potencial de crescimento, inovação e sustentabilidade”.
Querem, por isso, saber quais as “medidas concretas de execução” desta resolução da Assembleia da República já foram implementadas e conhecer o calendário previsto para a sua plena concretização.
“Este caso levanta também questões ambientais e de política pública, que exigem uma resposta coordenada entre os diferentes ministérios e entidades competentes, de forma a conciliar a proteção dos recursos hídricos e o cumprimento das normas ambientais com a preservação da atividade industrial e do emprego”, realça o grupo parlamentar do PS.