É um dos poucos vegetais com marca registada. Resulta da combinação entre os brócolos e a couve Kailan, promete ser mais saudável e ter menos calorias. Portugal é um dos quatros países a assegurarem a produção mundial.
A ideia veio do Japão, fruto do gabinete de investigação da Sakata, empresa produtora de sementes. A Bimi resulta do cruzamento entre um brócolo e uma couve kailan e está no mercado inglês há mais de 15 anos. Em Portugal a presença é mais recente (cerca de cinco anos). Primeiro pelas mãos da Emergosol (que também está presente no Reino Unido) e depois pelas mãos da Sakata, que criou uma espécie de clube, escolhendo a dedo produtores para a produção deste vegetal. Atualmente a produção centra-se no Ribatejo (Vila Franca de Xira e Santarém), na zona Oeste e na Costa Alentejana (Santo André). “Com este núcleo de produção somos, até à data, autossuficientes”, constata Jorge Faria, área manager Portugal da Sakata Seed Ibérica.
Um produto premium
Ao contrário de outras verduras, a Bimi é um vegetal que necessita de alguns cuidados extra. A sua vida útil é inferior à de um brócolo, por exemplo. Isto porque é muito sensível à temperatura elevada. Após a colheita tem de ser imediatamente colocado na refrigeração, o que coloca alguns desafios adicionais à produção na altura do verão.
Sendo um produto ainda recente no mercado nacional a produção, refere Jorge Faria, ainda não está estabilizada – apesar de estar continuamente a crescer. Mas, ao contrário do que se poderia pensar, a empresa não está à procura de novos produtores mas sim aposta em apoiar os que investiram, desde o início, na Bimi. Daí referir que há “uma espécie de clube”.
Poder-se-ia pensar que uma vida útil diminuta seria um entrave à produção (isso e o facto de, após a colheita, ser necessário ir para o frio, para não desidratar). No entanto, e apesar de as sementes custarem cerca de três vezes mais que as dos brócolos, o facto de ser um produto premium (e com isso ser vendido mais caro) e o de ter um maior rendimento (são retirados apenas os floretes e o vegetal volta a florescer) assegura a rentabilidade do vegetal. A prova é que, entre a sementeira (com um mês de viveiro) e a colheita (final) decorrem, no verão, cerca de 90 dias. Ou, por outras palavras, “na terra está 60 dias”. Já no inverno pode estar “seis a nove semanas em produção”, logo exige mais água – pelo facto de estar mais tempo na terra. Mas apenas isso, como refere Joana Bernardos, técnica da Emergosol, que acrescenta que o processo é semelhante ao de um brócolo normal. Em termos técnicos isto significa que cada gotejador gasta um litro de água por hora.
Já em relação à suscetibilidade a pragas, estas variam de zona para zona. No caso específico da Emergosol, que tem produção em São Pedro da Cadeira, Torres Vedras, o mais comum, no verão, é a mosca branca e o pulgão, que se alojam nas folhas e fazem com que a planta entre em stress. Pode também acontecer o aparecimento de míldio na folha, mas, “com os tratamentos específicos e preventivos”, aliado à fiscalização constante, ajuda ao não desenvolvimento da doença. Esta é rapidamente detetada, tratada e controlada. Há também o fungo alternaria, lembra Jorge Faria, que, apesar de tudo, afeta mais o brócolo que a Bimi, “o que não significa que não tenha de ser controlada”.
Colheita é o período sensível
Feitas as contas, os principais cuidados com a Bimi residem na colheita. Esta é feita de dois em dois dias à mão. Principalmente porque “queremos que este seja um produto tenro, suave, pouco fibroso, com uma grossura do caule controlada e com menos de 22 centímetros de altura”. O cuidado com estas especificações na colheita deve-se ao facto de estar provado que fora delas o produto se torna demasiado fibroso, explica Jorge Faria.
Todos estes cuidados com a colheita significam que, apesar de a semente ser efetivamente mais cara é a necessidade de mão-de-obra que encarece os custos associados à produção deste vegetal, até porque pode haver desperdício. Os floretes não crescem todos ao mesmo ritmo e se se verificar que ultrapassaram os requisitos exigidos o produtor terá de fazer uma poda para o chão, não podendo usar o florete. O que explica a necessidade da frequência quase diária na fiscalização (e colheita) da Bimi.
A principal preocupação da Sakata e dos produtores associados é a de garantir uma produção durante todo o ano mas de forma a que não haja excesso. O foco está na colocação do produto à venda nas melhores condições, de forma a manter o estatuto de premium (e com isso o preço associado). Para tal há uma interajuda entre os vários intervenientes: a Sakata que produz e vende a semente e assegura a formação inicial, os produtores e os três distribuidores.
Segundo Jorge Faria o risco do agricultor é o solo e o clima. Temperaturas mais elevadas obrigam a visitas mais frequentes ao vegetal, o que só se consegue com uma equipa capaz, em termos de número de elementos e de consistência dos mesmos.
Feitas as contas os agricultores consideram que é um produto que vale a pena. Mesmo porque a Sakata (que vende a semente) deu a exclusividade para o mercado nacional aos produtores que investiram com a empresa desde o início. A estratégia, agora, passa por crescer com quem investiu desde o início. Ou seja, aumentar a produção com os agricultores atuais e não procurar novos. Aposta que será complementada, logo que possível, por uma estratégia de divulgação do produto, quer através de experimentações na distribuição, quer tentando cativar novos “embaixadores” (ver caixa).
O certo é que existem apenas quatro países a produzir a Bimi no mundo e Portugal é um deles (para além do Quénia, Espanha e Reino Unido).
Com uma produção ainda algo recente a Bimi já se encontra disponível, na zona do frio, nas várias insígnias da distribuição. A marca tinha planeado toda uma estratégia de divulgação, com provas incluídas, mas a pandemia levou ao adiamento da mesma. A ideia é retomar logo que seja possível. E aproveitar o poder de divulgação do chef Rodrigo Castelo, que atua como uma espécie de embaixador da marca. O objetivo, a médio longo prazo, é o de conseguir fazer o que foi feito em Espanha e onde a marca tem todo um conjunto de chefs a darem a cara pela Bimi e onde inclusive há livros com receitas.
Mesmo assim, há (boas) surpresas. Como a receita divulgada, pela tia Cátia, no programa no canal 24 Kitchen ou a divulgação feita pelo chef Chakall. Para ajudar na divulgação a marca ofereceu algumas embalagens a alguns restaurantes. No entanto, reconhece Jorge Faria, “isto tem de ser trabalhado mais a fundo, com mais divulgação”.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.