A entrega de rótulos para garrafas está a sofrer constrangimentos causados pela “enorme e preocupante” subida de preços e pelos prazos de entrega da matéria-prima “cada vez mais dilatados”, assumiu hoje à Lusa uma empresa do setor.
Em declarações à Lusa, fonte oficial da VOX – Organização Mundial Gráfica, em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, que se dedica à rotulagem autoadesiva em diferentes tipos de papéis e gramagens e que tem nas áreas dos vinhos e dos azeites a grande parte dos seus clientes, admitiu que nas últimas semanas a navegação é feita à vista.
“Estamos a tentar gerir esta situação, nada disto vinha nos livros, há quem entenda os constrangimentos, há quem não entenda”, afirmou fonte oficial da empresa.
No final de março, em declarações à Lusa, Sérgio Alves, da Quinta de Rio Pequeno, em Cabeda, Alijó, deu conta dos atrasos na entrega de rótulos e os constrangimentos que isso provoca: “Estou a ter algum atraso na entrega dos rótulos e também com uma subida dos preços. Aliás, recebi uma comunicação a dar conta de nova subida de preços e a avisar que não dão garantia de preços mais do que um mês”, referiu o produtor e enólogo.
A queixa do produtor encontra eco na discrição da situação que a VOX descreveu: “Há uma grande instabilidade de preços, estão a ser revistos ao mês. Encomendamos hoje com um preço, recebemos daqui a três meses com outro preço que tem que passar para o cliente, que muitas vezes não entende nem aceita”, explicou a fonte.
Segundo a VOX, a gestão de encomendas “está a ser o maior desafio”, apontando os prazos de entrega “cada vez mais dilatados” como explicação.
“Fornecedores que nos garantiam entregas numa semana agora apontam seis meses e já houve um caso que apontou fevereiro de 2023”, exemplificou.
A VOX trabalha com mais de 400 referências de papel, “o que impossibilita fazer ‘stock’” pelo que as soluções são “aguardar ou mudar o tipo de papel”, o que na maior parte dos clientes não é possível.
“Não se pode alterar a referência porque isso levaria a mudanças na imagem da marca, não é viável”, explicou, apontando que outro fator de instabilidade para as empresas é a “enorme e preocupante” subida de preços.
“O aumento do preço levou muitos clientes a pedirem extensão de prazo para pagar, clientes que há uns meses não pensaríamos que teriam que o fazer”, salientou.
Mas não é só nos rótulos que os produtores de vinho encontram dificuldades, o mesmo acontece com as cápsulas para as garrafas, setor no qual “ainda não falta matéria-prima”, mas onde o aumento dos preços também se faz sentir, como explicou à Lusa o diretor-comercial da Pagoli, de Vila Nova de Gaia.
“O que temos notado é o crescimento muito acentuado do custo das matérias. Aumentos que chegam aos 30% quando comparados com 2021. Ainda não temos falta de matéria-prima, ainda, mas sabemos de outras empresas que já estão a sentir essa dificuldade. Nós ainda não. Ainda”, enfatizou à Lusa o diretor-comercial da Pagoli, Nuno Costa.
Questionado sobre como estão a gerir o aumento dos preços, o responsável afirmou que “com muito cuidado”.
“Estes aumentos uma parte assumimos nós, outra parte repassamos para os clientes porque não conseguimos assumir tudo. Isto trás outros constrangimentos como clientes a pedirem mais flexibilidade para pagar, clientes que estão a entrar em incumprimento, o que não acontecia, não era normal”, disse.
As duas empresas apontam a guerra na Ucrânia como “um fator de agravamento” da situação, mas referiram que a situação começou ainda antes do conflito.
“Já antes da guerra se sentia o aumento dos preços, dificuldade nos transportes, custo maior no transporte. A guerra agravou a situação”, referiram.