[Fonte: Público]
Naquele que é apontado o melhor ano desde 2000 para a produção vitivinícola mundial, em Portugal a quebra de produção deverá atingir os 22%, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Portugal é o país que mais cai em termos de produção, mas as estatísticas de consumo apontam para aumentos expressivos em volume e em valor.
LUÍSA PINTO 24 de Novembro de 2018, 3:42
Depois de um ano de 2017 em que a produção de vinho no mundo foi historicamente baixa, as previsões apontam para que no ano de 2018 a quantidade de vinho produzida no globo chegue aos 282 milhões de hectolitros. Este número, redondo quanto baste, encerra aquela que deve ser a maior produção vitivinícola no planeta, pelo menos desde o ano de 2000.
Os números foram avançados no final de Outubro pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), num relatório em que se percebeu, também, que Portugal e a Grécia são os únicos países do Velho Mundo que continuaram a assistir a quebras de produção, enquanto em todos os outros países aumentaram.
No ano de 2018 o mercado global do vinho terá de se preparar para o regresso em força dos três países que, sozinhos, asseguram praticamente metade da produção mundial do vinho: Itália, com 48,5 milhões de hectolitros, França, com 46,4 milhões, e Espanha, com 40,9 milhões de hectolitros. Já não bastava a dimensão do país para afastar Portugal destes colossos, mas houve em 2018 um outro factor que nos distanciou deste pelotão da frente em termos de produção.
As condições meteorológicas registadas foram favoráveis ao aparecimento de surtos de míldio e oídio, doenças que impactaram grandemente a produção de 2018. A OIV estima que Portugal vai ter a produção mais baixa dos últimos seis anos, desenhando uma curva quase em queda livre, com 22% de retracção comparado com 2017 – um ano que, per si, foi um ano historicamente mau.
O facto de a produção ter vindo a enfrentar travões desta magnitude, e estar em processo de desaceleramento há vários anos, não invalida que o consumo tenha vindo a perder terreno. Aliás, pelo contrário. Bastará olhar para o ano de 2017, e para as estatísticas produzidas por organizações que se empenham em analisar os dados em Portugal, para acreditar que no ano de 2018 o mesmo fenómeno se pode repetir.
Num ano historicamente mau em termos de volume de produção, como foi o de 2017, a Nielsen diz que o mercado nacional representou cerca de 2,48 milhões de hectolitros de consumo, aos quais correspondem cerca de 746 milhões de euros.
O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) estratifica estes números, referindo que, comparado com o ano anterior, este comportamento significou um crescimento de 3,2% em volume e de 5,2 % em valor, e que o preço médio de venda registou uma subida de quase 2%. Isto para o ano de 2017. Também já há estatísticas disponíveis para o primeiro trimestre de 2018, e mais uma vez confirma-se esta tendência: o valor gerado pelas vendas de vinho aumentou 2,6% face aos valores verificados no período homólogo de 2017, e, mais relevante ainda, o preço médio de venda registou um aumento de 3%.
“O mercado dos vinhos em Portugal demonstra um dinamismo muito positivo, sendo hoje um mercado com produtos de muito boa qualidade. Os vinhos representam um cluster muito relevante na economia nacional, apresentando também um forte dinamismo nas exportações realizadas”, escreve Manuel Carvalho Martins, porta-voz da Nielsen para o mercado dos vinhos, num comentário enviado a pedido da Fugas.
Voltando às estatísticas que foi possível consultar junto da Nielsen, percebe-se que no último ano móvel (terminado em Junho de 2018) a categoria vinhos valeu cerca de 183,8 milhões de euros só nos canais de retalho (que engloba a distribuição e a restauração), e que tal desempenho se deveu a um aumento de preço generalizado em todas as regiões. As regiões mais dinâmicas foram as de Lisboa (+27%), Península de Setúbal (+23%), Douro (+18%), Dão (+18%) e Tejo (+14%)
De acordo com a Nielsen, o mercado dos vinhos em Portugal apresenta um crescimento de 8% em volume no designado canal on trade (restauração) e 4% no canal off trade (compras em lojas). No que diz respeito às embalagens, garrafa (42,5%) e bag in box (39,6%) continuam a ocupar as maiores fatias do mercado, crescendo ambas a 5% no último ano móvel. O barril ganha especial importância no consumo fora de casa (on trade), com um crescimento de 25% e uma quota de mercado que já atinge os 8%. “Embora todos os tipos de vinho apresentem crescimentos, são os vinhos de mesa nacionais os mais dinâmicos, crescendo 7% no total do mercado em Portugal. O crescimento do bag in box resulta essencialmente do dinamismo dos vinhos de mesa, que representam 85,3% deste tipo de embalagem”, refere a empresa que analisa o comportamento dos consumidores.
Em termos globais, a região vitivinícola do Alentejo continua a dominar o mercado, garantindo uma quota de 18% em termos de quantidade de vinho vendido (apesar de ter protagonizado uma quebra de 6% face ao ano anterior) e uma quota de quase 30% do valor de mercado. A região do Douro já atingiu uma quota de 11% do valor de mercado, igualando a fatia que foi conquistada pela região do Minho, isto depois de ter tido uma variação de quase 18 % no valor das vendas.
A Nielsen consegue apurar outros dados relevantes, como o facto de, na distribuição (Hipers+Supers), 54% das vendas de vinho de garrafa terem sido realizadas através de promoções, tendo este valor crescido dois pontos percentuais face ao ano anterior e com aumentos em todas as regiões vitivinícolas. Com níveis de promoção do vinho acima da média dos bens de grande consumo, Manuel Carvalho Martins destaca a importância “de promoções de qualidade, que incentivem a inovação e proporcionem ao consumidor a capacidade de comprar produtos mais sofisticados, mais caros e em maior quantidade”.
Resultado da procura por produtos mais caros, verifica-se, nos vinhos de garrafa, um aumento de preços médios no total do mercado. Este cenário é sustentado pelo aumento de preços nas lojas. No que se refere às diferentes regiões vitivinícolas, também se verificam comportamentos distintos de acordo com os mercados. Na restauração verificou-se uma maior procura de vinhos em garrafa das regiões do Douro, Minho e Tejo. No mercado off trade, as regiões que mais crescem são Lisboa, Dão e Setúbal.
Os últimos dados apurados com maior rigor referem-se ao ano de 2016, e é desde aí que Portugal é considerado no mundo como o país onde se consome mais vinho. São dados per capita, como não poderia deixar de ser, e que revelam que no nosso país cada português bebe em média 54 litros de vinho por ano. O país que se lhe segue chama-se França e tem um consumo de 51,8 litros por ano. Contas grosseiras, e muito redondas, os 4,6 milhões de hectolitros de vindo consumidos entre portas em 2016 dão uma média de um copo de vinho por dia por cada português com mais de 15 anos.