O presidente da Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg) defendeu hoje que as políticas agrícolas da União Europeia não estão adaptadas ao sul da Europa, alertando para a necessidade de um orçamento robusto na futura Política Agrícola Comum.
Em declarações à Lusa, no final da conferência internacional “Agricultura nos Países do Sul da Europa”, que decorreu no CNEMA, em Santarém, José Núncio afirmou que os agricultores da região não se reveem nas políticas definidas em Bruxelas, considerando que estas ignoram as necessidades concretas do setor.
“A principal conclusão é a preocupação de todos os países do sul da Europa que temos em não nos revermos nas políticas que estão a ser feitas em Bruxelas”, afirmou, sublinhando que muitas das orientações comunitárias “não são adaptadas às nossas realidades” e dificultam a atividade agrícola no terreno.
Segundo o presidente da Fenareg, a questão da água é central para a agricultura do sul da Europa, apontando diferenças estruturais face ao norte do continente.
“Enquanto no norte o foco está na qualidade da água, no sul a preocupação é com a quantidade”, afirmou, lembrando que a agricultura representa a principal utilização de água nos países mediterrânicos.
José Núncio defendeu ainda uma maior articulação entre os países do sul da Europa e apelou à união de esforços para influenciar as decisões tomadas em Bruxelas.
“Estes fóruns são muito importantes para mostrarmos que não estamos sozinhos e que há um mal-estar generalizado com as políticas atuais”, disse.
O dirigente frisou também a importância de simplificar os processos burocráticos que afetam o setor, argumentando que “o papel do agricultor é no campo”.
“Se está no escritório a preencher papéis, não está a produzir”, criticou, pedindo mais agilidade na gestão dos apoios europeus.
A conferência foi organizada pela Fenareg, em parceria com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), e contou com a presença do ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, de representantes da Comissão Europeia, eurodeputados e dirigentes de organizações agrícolas de Portugal, França, Espanha, Itália, Grécia e Croácia.
Na sessão de encerramento, o ministro alertou para os cortes que poderão resultar da inclusão da dívida do PRR no orçamento da União Europeia, sublinhando que a PAC deve continuar a ter financiamento próprio, “adequado e com soluções europeias”.
“A agricultura é uma prioridade política. Não só por razões económicas e sociais, mas também pela instabilidade geopolítica que vivemos. A PAC é segurança alimentar, e segurança alimentar é também defesa”, afirmou o ministro.
José Manuel Fernandes insistiu na necessidade de garantir “estabilidade para os agricultores” e afirmou que os apoios atuais, se mantidos a preços correntes, representam “um corte” face à inflação.
O governante salientou que os apoios aos agricultores devem ser vistos como um investimento indireto nos cidadãos europeus, uma vez que “permitem que os consumidores tenham acesso a alimentos de qualidade, produzidos segundo normas ambientais exigentes”.
Entre as prioridades futuras, apontou o reforço da investigação agrícola comum, face aos desafios das alterações climáticas, novas pragas e doenças.