O nosso país e a nossa agricultura têm uma estrutura produtiva diversificada e heterogénea. Embora isso constitua uma dificuldade quando é necessário competir pela quantidade e pelo preço em produtos indiferenciados, acaba por representar uma mais-valia no que concerne à qualidade e à diferenciação dos produtos que conseguimos apresentar nos mercados nacionais e internacionais.
Assim, parece-me particularmente importante criar e desenvolver estruturas regionais dedicadas à promoção e à valorização da produção agrícola nacional, nas quais os produtores possam agregar-se e conquistar uma maior quota de mercado interno e externo, proporcionando ao país, através do incremento das exportações, uma parte considerável da mais-valia associada a esta valorização.
Considero que este processo é fundamental para que todas as zonas do nosso território possam projetar-se nos diversos mercados, por via da participação em iniciativas de promoção e em formas inovadores de promoção e comunicação, acrescentando valor ao produto interno, contribuindo para o crescimento da economia e conferindo ao interior do país maior sustentabilidade económica, nomeadamente no sentido de reverter os efeitos resultantes do despovoamento dessas regiões.
É fundamental estarmos atentos à reabertura dos mercados de exportação, para além do próprio mercado interno, e preparados para reagir rapidamente em função das oportunidades, empreendendo ações de promoção assim que a retoma do consumo permita ultrapassar os efeitos da pandemia que estamos a atravessar.
Para isso, é necessário reforçar as verbas destinadas à promoção comercial, mobilizando as entidades oficiais responsáveis pelo desenvolvimento dessas iniciativas e aproveitando os apoios comunitários para a implementação de atividades que contribuam para desenvolver estruturas de âmbito regional, capazes de agregar produtos e produtores com capacidade e para promover ações de promoção, também a nível internacional.
Neste sentido, é urgente que Portugal defina e adote um único símbolo para identificar a produção nacional em todas as áreas de atividade económica, substituindo as dezenas de símbolos promocionais e marcações de origem nacional atualmente existentes.
Por outro lado, parece-me também muito importante que o governo dê continuidade ao seu trabalho ao nível da diplomacia económica, com particular incidência na abertura de novos mercados e no apoio à manutenção dos mercados existentes. A exportação é um fator determinante para a recuperação económica de Portugal.
Neste sentido, espero que as áreas que podem levar a um aumento das exportações sejam consideradas prioritárias na atuação governativa. Por exemplo, o investimento no transporte de mercadorias é um aspeto fulcral para as áreas de atividade económica que dependem da movimentação de bens transacionáveis, como são a indústria e, precisamente, a agricultura e o setor agroalimentar de uma forma geral. A recuperação do nosso atraso na ferrovia é um aspeto evidente do que pode e deve ser feito colateralmente ao nosso setor de atividade.
É verdade que a agricultura portuguesa não parou e que as vantagens para o país dessa resiliência por parte dos agricultores já foram reconhecidas quer pelo governo quer pelo Presidente da República, nomeadamente na recente apresentação do documento “Ambição Agro 2020-30”, proposto pela CAP, mas é importante que este reconhecimento se materialize na projeção do setor também a nível internacional, de forma a potenciar a recuperação da económica do país na fase pós-pandemia.
Luís Mira, Secretário-Geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal
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