A agricultura alentejana corre o risco de enfrentar falta de mão-de-obra. A debulha deverá entrar no terreno dentro de dois meses com maquinaria espanhola, pelo que contratação de colaboradores já deveria estar em marcha. Mas por causa do fecho das fronteiras não há garantias das ceifeiras chegarem a tempo a solo português
Há vários anos que o recurso à mão de obra estrangeira e maquinaria espanhola é transversal na época da ceifa na região raiana, mas perante a fronteira do Caia reposta o agricultor João Paulo Calçudo, de Elvas, receia não ter quem faça a debulha.
“Já falei com o senhor que costuma cá vir ceifar e ele diz-me que não sabe como vai fazer o transporte da ceifeira para Portugal. Ele mora em Espanha, a 20 quilómetros da fronteira”, sublinha.
A preocupação está instalada na região numa altura em que o tempo escasseia. Se alguns produtores já optaram por não plantar tomate, alegando que depois não terão acesso a trabalhadores estrangeiros para a época da apanha, os donos dos campos de trigo, cevada e aveia vão precisar da maquinaria espanhola lá para finais de maio.
“Temos que pensar que daqui por dois meses as máquinas têm que estar em Portugal, caso contrário não sei como vai ser”, insiste João Paulo Calçudo, alertando para a necessidade das autoridades portuguesas abrirem um regime de exceção para os maquinistas espanhóis que trabalham em Portugal.
“Não temos máquinas para fazer esses trabalhos cá”, justifica o agricultor, revelando que “as pessoas que tinham algumas máquinas venderam-nas e os espanhóis entram na parte da Extremadura (na raia espanhola), fazem a ceifa em Portugal e seguem para o Norte de Espanha. Tem que ser arranjada em solução”, reclama.
Mas entre as dificuldades rurais impostas pela pandemia da covid-19, há exemplos agrícolas de sucesso. Leonardo Lanternas empenhou-se em salvar os dez postos de trabalho da sua empresa agrícola. Abriu ao público a sua quinta localizada na Calçadinha, no concelho de Elvas, e passou a aceitar encomendas de hortaliça, frutas, legumes e ovos pelo Facebook. E até já tem parceiros nas áreas dos enchidos e queijos.
“Criámos normas de segurança, que temos ido sempre melhorando, respeitando o distanciamento entre as pessoas, e conseguimos conquistar os clientes”, sublinha Leonardo Lanternas. A venda faz-se por aqui as quintas e sábados, quando os produtos frescos atingem a “cota máxima”.
O artigo foi publicado originalmente em TSF.
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