Assisti recentemente a uma palestra na Figueira da Foz sobre a “Floresta, incêndios, mitos e equívocos”. A longa apresentação defendeu os “incontestáveis” benefícios da “floresta do eucalipto”, recorrendo a muitos números e gráficos. Só faltou dizer que o “eucalipto não arde em Portugal”, mas arde na Austrália onde provoca gigantescos incêndios, causando centenas de mortes, e é apelidado de “gasoline tree”.
Paralelamente o orador convidado, representante da indústria do papel e da celulose (CELPA), passou um atestado de incompetência às instituições estatais, desde o Ministério do Ambiente à Proteção Civil. Não faltaram as críticas aos ambientalistas, “uns doidos que se acorrentam a árvores”. A cereja em cima do bolo: o apelo ao consumo de papel, vamos imprimir emails para “proteger a floresta”.
No final algumas perguntas incómodas, desde a poluição gravíssima no rio Tejo até ao facto do investimento da indústria da celulose em “floresta certificada de produção de eucalipto” ter estagnado (6% do total). Se realmente os terrenos “improdutivos” abundam e são baratos, porque não investe a indústria e “organiza” o território? A resposta foi esquiva, porque fica mais caro ter meios de proteção, certificar, tratar quimicamente,…etc. E por isso, a desregulação (“alguém viu o arranque de eucaliptais ilegais?”) e a desorganização florestal não incomodam a indústria da celulose e do papel. O eucalipto após o incêndio rebenta de novo, expande-se, invade e nem precisa de ser plantado. Temos 400 milhões de eucaliptos em Portugal. São plantados por uma única razão: dinheiro.