É muito difícil chegar a 2021 sem saber nada do cenário humano miserável que tem dominado a zona de Odemira. Contudo, uma parte do país – aquela que tem voz – só acordou agora por causa de uma polémica sinistra.
Durante quase uma década, os casos de trabalho ilegal e exploração de imigrantes têm vindo a ser denunciados. Até mesmo quando o propósito é denunciar apenas aumento da xenofobia ou os crescentes perigos ambientais da produção agrícola intensiva que tem caracterizado o litoral alentejano e algumas zonas interiores do distrito de Beja, sobretudo, inevitavelmente se aborda também o desrespeito pelos mais básicos direitos humanos que tem sido inerente a este tipo de explorações agrícolas.
Numa pesquisa rápida, é possível constatar que, entre denúncias de associações locais, partidos políticos (nomeadamente PCP, PEV e BE) ou algumas reportagens (sobretudo de medias independentes), é muito difícil chegar a 2021 sem saber nada do cenário humano miserável que tem dominado a zona de Odemira. Contudo, uma parte do país – aquela que tem voz – só acordou agora por causa de uma polémica sinistra.
De um lado, a revolta que se gerou a propósito da requisição civil de um complexo turístico, registado como parque de campismo, que não serve de habitação principal de ninguém, cuja legalidade é duvidosa por
João Gabriel Caia
Mestrando em História Contemporânea na NOVA FCSH e licenciado em História pela Universidade de Évora. Tem como um dos interesses de investigação as ideias políticas e os movimentos sociais em sociedades rurais. Alentejano de origem, politicamente inconformado de feitio