Na África Subsariana, cerca de três em cada quatro mulheres trabalhadoras (76%) estão empregadas em sistemas agroalimentares, representando 49% da força de trabalho do setor. O emprego feminino em atividades fora da produção agrícola direta, como processamento, distribuição, consumo e embalamento, tem vindo a crescer, passando de 21% em 2005 para 29% em 2022.
As conclusões são do relatório The Status of Women in Agrifood Systems in Sub-Saharan Africa, apresentado em Dakar, Senegal, durante o Fórum dos Sistemas Alimentares de África, numa iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), do Natural Resources Institute da Universidade de Greenwich (NRI) e da African Women in Agricultural Research and Development (AWARD).
O documento sublinhou ainda que as mulheres são reconhecidas como portadoras de cultura, conhecimento e coesão social nos sistemas agroalimentares. Destacou ainda que investir no empoderamento feminino pode reforçar a justiça social e impulsionar crescimento inclusivo, segurança alimentar e resiliência climática.
De acordo com a análise, o acesso aos recursos naturais e à recuperação ecológica é apontado como essencial para garantir igualdade de género, aumentar a autonomia das mulheres e criar oportunidades económicas.
Apesar de representarem quase três quartos (73%) da mão de obra no processamento e serviços alimentares, apenas 3% das mulheres estão presentes no transporte, o que revela a concentração em funções próximas do trabalho doméstico. Mais de 90% das mulheres empregadas trabalham no setor informal, onde a sua atividade permanece pouco reconhecida e valorizada.
“Os sistemas agroalimentares em toda a África Subsaariana são impulsionados pelo trabalho informal, doméstico e de subsistência das mulheres. Investimentos e políticas facilitadoras são necessários para criar mais empregos formais e assalariados para as mulheres, e os programas de proteção social devem ser expandidos para salvaguardar os meios de subsistência destas”, afirmou Abebe Haile-Gabriel, Diretora-Geral Adjunta da FAO e Representante Regional para a África.
Dos 33 países analisados, em 28 os homens têm maior probabilidade de possuir terras ou direitos fundiários seguros do que as mulheres. Barreiras estruturais limitam também o acesso feminino à água e às florestas, recursos vitais para a subsistência familiar.
“Mudanças positivas já existem na África Subsaariana, abordando diretamente as desigualdades enfrentadas por mulheres na região, embora ainda haja um longo caminho a percorrer, essas mudanças podem melhorar os meios de subsistência e o bem-estar das mulheres, bem como garantir que as suas prioridades sejam representadas de forma mais significativa na tomada de decisões”, destacou Lora Forsythe, Professora Associada de Género, Desigualdades e Sistemas Alimentares no NRI.
Dados recentes indicam que 64% da população sofreu insegurança alimentar moderada ou grave em 2024, com mais 11,2 milhões de mulheres afetadas do que homens. Quase 40% das mulheres entre os 15 e os 49 anos sofrem de anemia e muitas enfrentam riscos de saúde ocupacional nos sistemas agroalimentares, além de elevada exposição à violência baseada no género.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.