[Fonte: Instituto Superior de Agronomia]
A procura de respostas alimentares face às perspetivas associadas com mudanças climáticas, o decréscimo dos recursos naturais e o aumento demográfico mundial, levou o consórcio STEnCIL – SusTentável EfiCIente Lablab a olhar para o potencial de culturas alimentares esquecidas. Na base da procura verifica-se que todos os fatores enunciados culminam numa única preocupação, criar sistemas agrícolas resilientes que ofereçam uma variedade de alimentos saudáveis sem esgotar os limitados recursos naturais.
Desde 2014 que o Programa de Desenvolvimento Rural 2020 tem vindo a investir e a apoiar propostas de inovação que ajudem a fortalecer o sistema produtivo nacional de forma a conseguir responder a oportunidades ou problemas agrícolas ou do meio rural. Um desses projetos, o grupo operacional (GO) STEnCIL, criado por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (ISA-UL), em conjunto com várias Organizações de Produtores (OPs), Sociedades Agrícolas e outros operadores do setor, tem como objetivo explorar o potencial de uma leguminosa esquecida, o feijão cutelinho.
O sistema produtivo nacional confronta-se hoje em dia com problemas de salinidade dos solos resultantes das passadas práticas culturais, da qualidade da água de rega e principalmente das condições climáticas. Por seu lado a diminuição da precipitação média anual, na generalidade do país, tem apresentado especial impacto nas zonas marginais do interior, onde novas soluções são procuradas para viabilizar os sistemas agrícolas locais. Foi com estas preocupações que a equipa do ISA-UL propôs a exploração do feijão cutelinho, uma planta multifuncional, com elevada tolerância à seca e à salinidade. A multifuncionalidade deste feijão é uma mais-valia por permitir ao produtor uma flexibilidade de produção em zonas críticas (solo e água) para a produção de culturas de elevado rendimento. Estudos realizados durante o decurso do GO, demonstraram a mais-valia desta cultura em sistemas agroflorestais em regiões marginais, como o olival tradicional na região de Sicó (concelho de Ansião), pela sua aptidão forrageira para a pastorícia local. Em paralelo apresentou boas performances com escassez de água durante o verão de 2016, em que Portugal sofreu uma grave seca, mantendo-se a cultura verde e produtiva sem recorrer a rega.
Na região da Lezíria do Tejo, os ensaios a decorrer nas OPs parceiras do GO, mostraram a capacidade da planta produzir matéria verde em abundância (aproximadamente 1 tonelada por hectare), sem recorrer a rega. Ao nível da sanidade das culturas, especialistas em proteção de plantas da Escola Superior Agrária de Santarém, observaram em campo a capacidade do feijão cutelinho em atrair insetos auxiliares, o que poderá apresentar uma vantagem para a criação de bordaduras de biodiversidade nos campos (estudo em curso). De entre as vantagens no investimento deste feijão, está a qualidade nutricional para uma alimentação equilibrada. Uma equipa de investigadores do ISA e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, comprovou que este feijão tem um excelente rácio anti-inflamatório de ómega-3 e ómega-6 com efeitos benéficos para a saúde humana aqui.
Outras vertentes em estudo durante o decurso deste Grupo Operacional realizado no âmbito da Parceria Europeia para a Inovação na Agricultura, financiado pelo Plano de Desenvolvimento Rural 2020 do Ministério da Agricultura, irão desvendar as vantagens e desvantagens desta cultura, na certeza de que o STEnCIL será o ponto de partida para definição de novos itinerários técnicos, sustentáveis, adaptados às alterações climáticas e capazes de aportar novos rendimentos para as populações e sistemas agrícolas nacionais.