O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) defendeu hoje a necessidade de se transformar a crise das alterações climáticas em oportunidades de diferenciação em diversidade e qualidade para aumentar o valor de toda a cadeia vitivinícola.
“Temos que transformar as crises das alterações climáticas numa oportunidade para reforçarmos a nossa diferenciação com mais qualidade e conseguirmos ganhar mais notoriedade no indispensável, para se criar o valor das nossas uvas e do nosso vinho e incrementá-lo e implementá-lo”, destacou Bernardo Gouvêa.
Neste sentido, defendeu que “não é apenas pensar em conservar o património vinícola, mas em adequá-lo cientificamente às realidades das alterações climáticas nas diferentes regiões, tornando numa vantagem competitiva real”.
Este responsável falava na sessão de abertura da conferência internacional organizada pela Comissão Vitivinícola Regional (CVR) do Dão, em parceria com o Instituto Politécnico de Viseu (IPV), sobre a sustentabilidade da vinha e do vinho, tendo em conta o pacto ecológico da União Europeia.
Bernardo Gouvêa adiantou que a criação de valor em toda a cadeia não se resume à vitivinícola, também “tem de se transformar a ameaça numa oportunidade na enologia, no marketing, na comunicação, na embalagem, na atuação dos preços médios à estrutura de custos e dos fatores de competitividade das empresas”.
Isto, explicou, assente no pacto ecológico da União Europeia que se desenvolve em 10 pilares e 50 iniciativas, sendo que para a Agricultura são dois os pilares que “terão o maior relevo para o setor”, como o da economia circular e o da agricultura verde.
“No domínio da economia circular, temos de reforçar a estratégia da preservação da nossa viticultura. A preservação do património varietal português, que é único no mundo, e que se liga estruturalmente à nossa afirmação global no mercado externo”, destacou.
E no pilar da agricultura verde, “que se fundamenta na estratégia ‘farm to fork’ (do prado ao prato), tem de existir “um plano de ação para se reduzir a utilização de pesticidas químicos fertilizantes e antibióticos da produção agrícola”.
“Neste domínio, venho alertar que, para a comissão europeia, é assumido como um dos objetivos principais dos futuros planos nacionais de apoio ao setor vitivinícola para todos os Estados membros, que deverão ser o reforço da sustentabilidade”, alertou.
Ou seja, estes dois pilares “são os eixos que vão estar na base dos próximos apoios nacionais” para o setor da Agricultura e, nomeadamente, para a vinha e o vinho, avisou o presidente do IVV.
Tendo em conta estes desafios para o setor, Bernardo Gouvêa lançou para o debate, ao longo do dia, as prioridades que considera que Portugal, e nomeadamente as CVR e os produtores, têm pela frente.
“A preservação nacional, o melhoramento genético da videira e dos micro-organismos enológicos, a adaptabilidade cultural, a sanidade, a viticultura de precisão e a segurança alimentar” são algumas das prioridades apontadas, assim como a realização de estudos quer sobre consumidores como de novos produtos a partir da vinha e do vinho.
O presidente da CVR Dão, Arlindo Cunha, na sessão de abertura, mostrou-se “muito satisfeito” com a inscrição de “quase 500 participantes, o que já por si mesmo é um grande sucesso” da iniciativa que conta com oradores no auditório do IPV, mas também nas plataformas digitais onde é possível assistir ao debate.