Populações de quinze concelhos do sul ao norte de Portugal protestam no sábado contra os incêndios florestais e contra a destruição e abandono do interior, numa ação convocada pela Rede Emergência Florestal/Floresta do Futuro.
Os protestos decorrem no sábado em Águeda e Aveiro (distrito de Aveiro), Arganil, Coimbra, Lousã e Oliveira do Hospital (Coimbra), São Pedro do Sul (Viseu), Sertã e Proença-a-Nova (Castelo Branco), Pedrógão Grande e Leiria (Leiria), Braga, Lisboa, Porto e Odemira (Beja).
Em comunicado enviado à agência Lusa, a organização salientou que as diversas localidades “unem-se para protestar contra a reiterada demissão do poder público em relação à floresta e aos incêndios florestais que há muito deixou de ser incompetência para não ser mais do que a prática reiterada de permitir a destruição e desertificação do país, começando no mundo rural”.
“Este ano ardeu mais de 3% do território nacional. Há menos de uma década, em 2017, ardeu 5% do território e, nos últimos 35 anos, metade do país já ardeu e várias áreas arderam duas ou três vezes nesse período”.
A Rede Emergência Florestal/Floresta do Futuro considera que pode haver menos incêndios, mas que para isso é essencial ter menos calor e é urgente mudar a organização e a composição das paisagens e da floresta.
“O protesto organiza-se à volta da deseucaliptização do país, que, com perto de um milhão de hectares, está tomado por uma espécie pirófita e invasora que se expande a cada fogo, da descarbonização, que é a única maneira de travar a subida vertiginosa das temperaturas que aumenta e agrava os fogos e ondas de calor, e a democratização, vetor essencial nas soluções de que precisamos, rejeitando as opções industriais e de (sub)desenvolvimento que foram impostas ao país e ao mundo rural”.
Para Margarida Marques, uma das porta-vozes do movimento, de Arganil (distrito de Coimbra), onde teve início o maior incêndio de sempre em Portugal, o protesto “traz a inultrapassável realidade dos nossos tempos: transformar a paisagem, planear a reocupação dos territórios abandonados e travar o aumento da temperatura”.
O ano de 2025 é o terceiro pior de sempre em termos de área ardida até 31 de agosto, indica o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR), avançando que 17% dos grandes incêndios começaram à noite.
Uma análise preliminar aos incêndios de 2025, referente ao período de 01 de janeiro a 31 de agosto, a que a agência Lusa teve acesso, refere que deflagraram 7.046 fogos que consumiram 254 mil hectares de área.
A rede “Emergência Florestal/Floresta do Futuro” foi criada em 2022 no rescaldo de uma iniciativa que chamou a atenção para o problema dos incêndios, através de uma caravana pela justiça climática que percorreu cerca de 400 quilómetros, entre a Figueira da Foz e Lisboa, passando pelos sítios mais afetados pelos incêndios florestais.