A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) defendeu hoje “uma profunda reflexão” sobre a organização do combate aos incêndios florestais, questionando se é adequado “do ponto de vista financeiro e organizacional” ter cinco forças no terreno.
“Portugal necessita de reforçar os seus bombeiros e de refletir se será adequado, do ponto de vista financeiro e organizacional, ter cinco principais forças de combate aos incêndios, sendo que a soma de quatro delas, não consegue colocar à disposição do combate mais de 600 mulheres e homens em cada período de trabalho, em contraponto com os 15.000 bombeiros”, afirmou o presidente da LBP, no parlamento.
António Nunes foi hoje à tarde ouvido na Comissão de Agricultura e Pescas da Assembleia da República, numa audiência pedida pela Liga na sequência das declarações do presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, na mesma comissão em julho, em que afirmou que os “corpos de bombeiros receberem em função da área ardida”, considerando um “objetivo perverso”.
Aos deputados, o presidente da LBP defendeu que este modelo merece “uma profunda reflexão”, sendo este o momento de se poder “corrigir decisões do passado que não se mostrem as mais adequadas”.
“Haja coragem para discutir abertamente o que se passa de facto no terreno, pelo que pela nossa parte os bombeiros estarão disponíveis para participar em qualquer fórum que, com verdade, queira discutir a organização do combate e aprender com as lições aprendidas, sem subterfúgios de qualquer ordem, sejam políticos, técnicos ou operacionais”, frisou.
António Nunes deixou também sugestões para que em Portugal se acabe com “o subfinanciamento crónico” das associações humanitárias dos bombeiros voluntários ao sublinhar que o modelo de financiamento às corporações de bombeiros “não pode ser aquele que existe”.
O responsável indicou que existe uma “panóplia de organismos” com quem os bombeiros têm de falar, designadamente os Ministérios da Saúde e da Administração Interna, duas secretarias de Estado, INEM e Administração Regional de Saúde.
“Defendemos há muito os contratos programas, a Assembleia da República definia em cada ano, no Orçamento do Estado, o que quer dar a cada corpo de bombeiros face àquilo que exige de cada corpo de bombeiros para socorrer os elementos da sociedade”, disse.
O presidente da LBP colocou também algumas reservas sobre o investimento que está a ser dado atualmente na prevenção em detrimento do combate aos fogos.
“Não podemos diminuir os valores do combate continuando a subsidiar a hora de trabalho de um bombeiro voluntário que está de prevenção no quartel para apagar incêndios a 2,58 cêntimos. Não podemos continuar a diminuir a ação do combate. Não estamos a pagar o ordenado mínimo nacional aos bombeiros voluntários que estão de férias para estarem no quartel prontos para sair ao DECIR [Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais]”, afirmou, avançando que a Liga fez uma proposta ao Ministério da Administração Interna para que em 2026 o preço da hora ficasse igualado ao salário mínimo.
Após as declarações de Tiago Oliveira, a LBP manifestou total discordância, considerando-as falsas, exigiu um pedido de desculpas e a demissão do presidente da AGIF.
“O presidente da AGIF poderia, posteriormente, ter corrigido as suas afirmações ou pedido desculpa. Porém não o fez, nem em público, nem por escrito. Lamentamos profundamente o que ocorreu e, ainda mais, a falta de perceção do doutor Tiago Oliveira pela ofensa que teve para com os bombeiros de Portugal”, afirmou.
Os deputados do PSD João Marques, do Chega Pedro Pinto e da Iniciativa Liberal Cotrim Figueiredo partilham da opinião da LBP e consideram ser falso que os bombeiros recebam em função da área ardida.
A Liga dos Bombeiros Portugueses apresentou hoje uma queixa-crime contra o presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, por alegadas ofensas aos bombeiros.