Desde meados do século passado até ao presente, tem-se vindo a registar um progresso científico e tecnológico nunca antes observado, nomeadamente no domínio da produção de alimentos, que agora mais nos ocupa.
O aumento da população mundial entretanto ocorrido, de 2,5 para 8 mil milhões de pessoas, foi possível graças principalmente ao enorme acréscimo registado na produção agrícola.
Simultaneamente, a pobreza extrema baixou de 75% para 9% da população mundial, estimando a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que, contudo, atualmente 735 milhões de pessoas passam ainda fome no mundo, sendo a África a região mais afetada.
O fator produtivo que maior influência teve no aumento da produção foi, de longe, o uso dos adubos azotados, pois geralmente o azoto é o nutriente mais limitante das produções vegetais. De notar, todavia, que tanto a síntese do amoníaco (base dos adubos azotados), como a aplicação dos adubos azotados, estão associadas à poluição do ambiente (o que, todavia, pode ser minimizado).
No que toca à Avicultura e, em particular, à produção de carne de frango, é interessante assinalar que é também em meados do século XX que a mesma está associada aos progressos que viriam permitir atingir desempenhos produtivos cada vez mais eficientes.
Com efeito, anteriormente, em especial a partir de meados do século XIX, tornou-se moda, nomeadamente em Inglaterra, selecionar as aves em função da aparência, como aves de exibição, tendo surgido as exposições avícolas, que atraíam grandes multidões sobretudo pela curiosidade de verem raças exóticas.
Note-se que as caraterísticas de expressão económica não eram consideradas como critérios de seleção, mas a escolha das aves para exposição viria a produzir aves mais uniformes que, após a II Guerra Mundial, vieram a servir de base para os primeiros selecionadores/melhoradores das atuais estirpes de frango.
De facto, só em meados do século XX é que a melhoria do desempenho produtivo das aves ocupou cientistas e avicultores.
No que respeita ao frango de carne, o primeiro objetivo consistiu em aumentar a velocidade de crescimento, pois quanto menos dias forem necessários para atingir o peso objetivo, menor é a quantidade de alimento ingerido por kg de aumento de peso vivo. Consequentemente, mais baixo é o custo de produção (sustentabilidade económica) e menor é o impacto ambiental, pois será necessária uma área de terra inferior para cultivar os cereais e as oleaginosas componentes do alimento composto completo administrado ao frango.
Entretanto, o melhoramento genético veio contemplar muitas outras variáveis, que atualmente se elevam a algumas dezenas: resistência a diversas doenças, estrutura óssea, percentagem de peito, etc.
Num estudo realizado no corrente ano pela prestigiada Universidade de Wageningen (Países Baixos) conclui-se que, considerando a atual produção mundial, o melhoramento genético do frango de carne poupa por ano 610 200 hectares de terra cultivada e 5,1 milhões de m3 de água consumida (sustentabilidade ambiental).
Para além do melhoramento genético, que representa a área que mais tem contribuído para a melhoria da eficiência produtiva do frango de carne, importa relevar:
- os progressos também registados na nutrição, mormente após a descoberta das 14 vitaminas e dos aminoácidos essenciais obtidos também por síntese, com destaque para a metionina e a lisina;
- a melhoria da profilaxia, com relevo para a descoberta de inúmeras vacinas, que vieram possibilitar a criação das aves em confinamento o que, por sua vez, veio permitir que fossem criadas condições de conforto e bem-estar, responsáveis também por uma melhor eficiência produtiva das aves;
- no que respeita a este último aspeto, os progressos relativamente recentes (e já aplicados em Portugal) são notáveis, pois recorrendo ao uso de computadores e da inteligência artificial, é possível controlar no interior dos aviários importantes variáveis, a saber: temperatura ambiente, humidade relativa, amoníaco e dióxido de carbono.
Em decorrência do que precede, o preço do frango ao consumidor sofreu uma quebra muito acentuada (sustentabilidade social) o que, juntamente com o seu valor nutritivo e sabor, contribuiu enormemente para que, de 1960 para 2022, o consumo de carne de frango em Portugal tenha subido de 1,4 kg para 34 kg/habitante/ano.
Acresce que a eficiência e competitividade dos avicultores Portugueses permitem que o País exporte carne de frango e, principalmente, pintos do dia e ovos para incubação (cujo embrião irá dar origem ao frango), sendo que estes dois últimos produtos estão porventura associados ao facto do Grupo Valouro dispor da maior empresa europeia de multiplicação avícola (Gallus gallus) equipada apenas com instalações próprias, sitas em Portugal e em Espanha.
A nível mundial, a FAO estima que o consumo de carne de frango aumente 16% até 2031, o que decorre das excelentes caraterísticas desta proteína animal, do seu baixo preço ao consumidor e da inexistência de restrições religiosas ao seu consumo.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
Grupo Valouro
Do Prado ao Prato na perspetiva de um fruticultor português – Manuel Chaveiro Soares