Portugal é um país com algum caminho percorrido no que diz respeito à adaptação dos seus produtos agroalimentares ao contexto global (e local!) do consumo.
Esta afirmação é pessoal, mas sinto-me confiante em partilhá-la nestes termos porque a baseio na minha experiência profissional na fileira agroalimentar e, simultaneamente, nos vários casos de produtos de sucesso que fui podendo experimentar no papel de consumidor. E não me refiro apenas ao produto, alargando o teor da afirmação anterior à embalagem…
Que factores tem contribuído para tal sucesso? Na minha opinião, tem sido 3: a qualidade (média) dos produtos agroalimentares nacionais; a adopção de novos métodos de produção e/ou ferramentas de apoio à gestão eficiente por algumas fileiras; a especialização e qualificação dos vários “elos” da cadeia de valor (desde a investigação, passando pela produção e terminando na distribuição/comercialização).
“Pintado o quadro” nestas cores mais ou menos alegres, dir-se-ia que está tudo bem e que basta manter “o comboio em andamento nos carris” … Mas não! Num contexto volátil e imprevisível em termos de economia e ordem mundial e de alterações climatéricas, acomodarmo-nos seria um erro!
Por isso, o racional dos diferentes stakeholders das fileiras agroalimentares nacionais terá que manter a aposta na inovação produtiva, da internacionalização de produtos e da investigação e desenvolvimento (I+D fundamental e aplicada) que suporta os dois anteriores.
A I+D é o factor de diferenciação competitiva do agroalimentar nacional que pretendo destacar no meu contributo escrito.
Qual é a Estratégia Nacional para a I+D agroalimentar?
Será que aposta numa abordagem agressiva e dirigida para algumas fileiras produtivas estratégicas?
Estão os estímulos à I+D agroalimentar repartidos com base em critérios objectivos definidos estrategicamente num óptica “demand driven” ou “value driven”?
Será que as fileiras estratégicas têm comprovado, nos últimos anos, retornarem à Economia Portuguesa e/ou ao Sistema Científico e Tecnológico Nacional numa proporção favorável ao investimento realizado e aos incentivos atribuídos?
As metas pré-definidas para esses investimentos e incentivos foram atingidas?
Especulo se não estaremos perante uma alteração de paradigmas no que diz respeito a ferramentas suporte à I+D+i (inovação) que requerem uma reformulação de algumas dessas metas! Cito os casos das tecnologias Blockchain que prometem a revolução digital e do CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) que pode ser disruptiva para as técnicas de melhoramento aplicandas pela biotecnologia.
Será que estamos a considerar novas linhas de I+D agroalimentar em função destas “acelerações” de paradigma?
Qual é o nosso benchmarking no que diz respeito à produtividade dos estímulos financeiros às linhas de I+D que promovemos estrategicamente?
Ambicionamos ser referência e “best in class” em alguma(s) fileira(s) que permita(m) exportar tecnologia ou know-how para além dos produtos alimentares transacionados internacionalmente?
As respostas individuais que me atreveria acrescentar ao que acima questiono justificariam bem mais espaço do que o predestinado a esta rubrica! Como tal, atrevo-me seguir por um outro caminho editorial e refugio-me numa verdade, para mim, indesmentível: na maioria das situações, a origem da inovação não esteve na resposta encontrada para um problema, mas na pergunta formulada previamente.
Venham daí essas respostas, por quem (mais) competente possa ser…
Deixo um voto especial de sucesso para esta fantástica equipa do Agroportal.
Tiago Brandão
Diretor Projecto – Novos Negócios Cervejeiros – Super Bock Group