Um incentivo de 50 mil euros foi o suficiente para que duas startups do norte transformassem ideias de negócio, com base em tecnologia espacial, em empresas em operação e com perspetivas de futuro. InanoE e Eye2Map foram os dois primeiros projetos a receber apoio do programa da Agência Espacial Europeia e da Fundação para a Ciência e Tecnologia, o ESA BIC Portugal. Dois anos volvidos, estão ativas no mercado e já dão provas além-fronteiras.
A InanoE está atualmente a testar nanogeradores de energia elétrica na indústria de petróleo e gás, depois de ter desenvolvido uma tecnologia que converte energia mecânica e térmica em eletricidade. O objetivo é que esses microgeradores alimentem os sensores das tubagens de extração. Para isso, estão a ser alvo de ensaios de performance, que avaliam critérios como segurança, qualidade, durabilidade, limites em ambientes atmosféricos adversos, entre outros. O negócio tem um enorme potencial a nível internacional e já despertou o interesse da indústria nos Estados Unidos.
O caminho para transformar um projeto em negócio foi longo e nem sempre a direito. A ideia já conta uns cinco anos e surgiu dentro do mundo universitário, entre professores e investigadores de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e dois alunos de mestrado. Nessa altura, o projeto tinha o foco nas indústrias do têxtil e do calçado. Com pernas para andar, foi finalista num concurso de ideias da UP e representou a universidade num evento semelhante no México.
Mas é na UPTEC, a incubadora da ESA na região Norte, que o projeto ganha forma de negócio. Depois de uma avaliação a cargo da ESA e de parceiros portugueses, a InanoE foi considerada elegível para receber o incentivo financeiro, o que obrigou desde a primeira hora à criação da empresa. Em janeiro de 2016, arrancou com o desenvolvimento do produto e definição do modelo de negócio. Com o apoio da ESA, ganhou fôlego financeiro para desenvolver o projeto, adquirir equipamento para produção, arrendar infraestruturas e incorporar recursos humanos. E aqui alterou o foco. Como explicou André Pereira, um dos fundadores, “verificámos que havia mercados mais emergentes e atrativos do que as indústrias têxtil e do calçado e mudámos de estratégia”.
A InanoE concorreu a um fundo para empreendedores lançado pelo grupo Repsol e aposta no setor do Oil & Gas. André Pereira estima que, em 2020-2021, o produto esteja no mercado e que num espaço de três anos permita gerar uma faturação próxima dos dois milhões de euros. A Repsol abriu canais e hoje a InanoE conta já com um parceiro no Texas. O investimento global ascende a 1,2 milhões, sendo que o financiamento será assegurado através de fundos europeus. Para já, as receitas da startup, que rondam os seis mil euros anuais, dependem da prestação de serviços de consultoria energética.
No início, era a agricultura. Chegou o ouro, depois o lítio e, agora, a extração de pedras. A Eye2Map, cujo percurso é muito semelhante à InanoE, desde a primeira hora que começou a vender os seus serviços de georreferenciação de dados. Com o apoio da ESA, a startup adquiriu drones, equipamento topográfico, computadores e licenças de software e arrancou com a atividade.
Do ouro ao lítio
Como explicou Óscar Moutinho, um dos mentores do projeto, a empresa direcionou-se inicialmente para o setor agrícola, mas acabou por perceber que os empresários estavam pouco sensibilizados para a tecnologia e para a importância da obtenção de dados.
Sem esmorecer, a Eye2Map focou-se na área da geologia e começou a fazer levantamentos topográficos para uma empresa que estava a fazer prospeção de ouro em Trás-os-Montes. Esse cliente abriu a porta a um projeto ainda maior. Foram dez quilómetros quadrados escrutinados a pente fino, na zona de Boticas, para a Novo Lítio, empresa que queria explorar o mineral na região.
Entretanto, a tragédia na pedreira de Borba abriu novas oportunidades. “Estamos com um pico de trabalho com as pedreiras, que estão a pedir monitorizações e levantamentos topográficos. Só no mês de janeiro foram dez”, adiantou Óscar Moutinho. A startup, que faturou 50 mil euros em 2018, perspetiva duplicar neste ano as vendas.
O ESA BIC já apoiou, entretanto, mais quatro empresas. As candidaturas estão sempre abertas e são avaliadas três vezes por ano.