Os “preços e lucros excessivos” com produtos alimentares são umas das razões apontadas para evitar compras em grandes cadeias de supermercados. É possível escapar-lhes?
Enquanto conversam sobre música e futebol, João Mendes faz as compras da semana ao Sr. José, do Pomar Coutinho. Começou a visitar com mais frequência o pequeno supermercado local, no centro da Trofa, há seis anos, quando decidiu evitar ao máximo entrar em grandes cadeias de supermercados.
O copywriter freelancer de 38 anos virou as costas quando se apercebeu que “os legumes e a fruta que comprava nas grandes superfícies duravam pouquíssimo tempo” em comparação com os produtos que chegavam de familiares e amigos que tinham hortas. Pouco depois, reparou que no minimercado da sua rua os preços estavam muito abaixo do que via no hipermercado onde costumava comprar. Produto a produto, foi fazendo comparações e reparou que lhe compensava mais comprar no pequeno comércio.
João não é único a trocar as grandes superfícies, empurrado pelo que classifica de “preços e lucros excessivos”. Outros apontam como razões a preocupação com a sustentabilidade ambiental ou com a sobrevivência dos negócios locais. E há quem questione se um boicote generalizado, mesmo sabendo o quão difícil é mudar rotinas e encontrar alternativas equiparáveis, ajudaria a baixar os preços galopantes e a passar uma mensagem de descontentemente perante irregularidades detectadas pela ASAE e denunciadas por consumidores.
“Existe sempre um produto que me obriga a voltar”
Hoje, 90% das compras de João são feitas entre o Pomar do Sr. José, o mercado semanal da Trofa e um talho que fica a dois minutos de casa. No entanto, por vezes, ainda se vê obrigado a ir comprar aos grandes: “Existe sempre um produto mais complexo que me obriga a ir a uma grande superfície como um creme, umas bolachas que o meu filho quer muito, uma garrafa de vinho e pouco mais.”
Ana Machado, 35 anos, gerente de um estúdio de fotografia no Porto, já há algumas semanas que evita por princípio fazer compras em grandes superfícies. Costumava visitar o supermercado três vezes por semana, agora vai duas a três por mês: “Neste momento, incomoda-me gastar dinheiro num supermercado. Do ponto de vista ideológico também já não se aceita. Não se justifica.”
A preocupação em ser mais sustentável também levou Stefanie Silva a reduzir as idas aos supermercados. Sendo vegetariana, a enfermeira de Viseu diz que não compra quase nenhuma da comida que consome em grandes superfícies. Porém, não vive sozinha. Normalmente, recorre a hipermercados para comprar comida para os animais, “alimentos processados” e outros que a granel sejam mais difíceis de encontrar.
A viver longe do centro da cidade, reconhece que nem sempre é fácil fazer as compras em locais mais sustentáveis. “Procurando ser sustentável a todos os níveis, tenho de me organizar quando me desloco ao centro da cidade para fazer tudo aquilo que preciso. Organizar muito bem, não só as compras mas também a deslocação”, diz.
Há mais de 30 anos que os alimentos não eram tão caros
Rosa Silva, trabalhadora independente de 55 anos, costumava fazer as compras sempre no mesmo hipermercado. No final de 2022, quando a subida dos preços se tornou “um abuso”, procurou alternativas. Agora, opta por mercados locais (onde, diz, a especulação também existe) e mercearias.
“Eu sou muito básica nas compras, não me estico muito. São sempre as mesmas coisas há anos e sou fiel às mesmas marcas. Portanto, há aqui um referencial muito claro quando as coisas aumentam de uma forma absurda”, conta. A título de exemplo, refere o caso da manteiga dos Açores, que costumava usar: “Passou de 1,69 euros para 2,30.”
Nos mercados, os preços nem sempre são mais baixos. Rosa Silva, costuma dirigir-se ao mercado de São João da Madeira e já percebeu que os preços flutuam ao longo do dia. Com o contacto certo, porém, pode-se […]
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