Um consórcio europeu completou com êxito os primeiros ensaios de campo com batatas geneticamente editadas para resistirem ao míldio tardio (Phytophthora infestans), uma das doenças mais destrutivas da cultura, abrindo caminho para uma agricultura mais sustentável e menos dependente de fungicidas.
A Europa alcançou um novo marco na biotecnologia agrícola com a conclusão bem-sucedida dos primeiros ensaios de campo com batatas editadas geneticamente para resistirem ao míldio tardio, uma doença devastadora que afeta a produção mundial de batata.
O projeto Oppotunity, composto por 12 organizações da cadeia de valor da batata para amido, realizou testes na Suécia e na Dinamarca com variedades editadas com recurso à tecnologia CRISPR-Cas, confirmando a viabilidade, estabilidade e desempenho das novas linhas de batata desenvolvidas para uso industrial.
Segundo comunicado oficial datado de 21 de outubro, o material genético de base foi a variedade ‘Kuras’, amplamente utilizada para produção de amido na Europa e fornecida pela empresa Agrico. Após um ano de trabalho em estufa, foram cultivadas em campo, durante a temporada de 2025, as primeiras plantas derivadas de minitubérculos editados, com resultados promissores. Em paralelo, iniciou-se a multiplicação de sementes para permitir a expansão dos ensaios em 2026.
Uma abordagem inovadora e colaborativa
O consórcio Oppotunity inclui empresas e centros de investigação como Aardevo, Agrana, AKV, KMC, SolEdits e outras, numa colaboração pan-europeia para demonstrar o potencial das novas técnicas genéticas (NTG) na agricultura sustentável. A introdução de resistência genética ao míldio tardio pode reduzir drasticamente o uso de fungicidas, melhorar a produtividade e minimizar o impacto ambiental.
“Conseguir melhorar uma variedade de batata através de NGT e vê-la crescer no campo ao fim de apenas um ano de trabalho é um enorme avanço”, afirmou Hans Berggren, secretário do projeto. “Mostra a rapidez e a eficiência que a edição genética oferece para adaptar as culturas aos novos desafios ambientais.”
Segundo Sjefke Allefs, especialista em melhoramento genético da Agrico, a edição genética permite encurtar entre 8 a 10 anos o tempo necessário para obter variedades resistentes, em comparação com os métodos tradicionais.
Sustentabilidade, inovação e futuro
O míldio tardio provoca perdas económicas globais superiores a 6 mil milhões de dólares por ano e obriga os produtores a aplicar dezenas de tratamentos fungicidas por temporada. Com mais de 11.000 agricultores europeus dependentes da batata para amido, o projeto Oppotunity representa um investimento estratégico na sustentabilidade e competitividade do setor, alinhado com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu.
Para 2026, estão previstos ensaios em diferentes condições agroclimáticas e a seleção final das variantes genéticas mais eficazes e estáveis. O objetivo final é disponibilizar uma variedade comercial de batata resistente ao míldio tardio, com alto desempenho, qualidade industrial e menor impacto ambiental.
Atualização da legislação europeia
O consórcio defende também a necessidade urgente de atualizar o enquadramento legal europeu sobre tecnologias genéticas, para que estas inovações possam ser implementadas de forma segura, transparente e benéfica para os agricultores, consumidores e indústria.
“Estamos a demonstrar que a edição genética pode oferecer soluções concretas para problemas urgentes, mantendo os princípios da sustentabilidade”, sublinhou Allefs.
O sucesso do projeto Oppotunity mostra que a biotecnologia moderna é uma aliada essencial para enfrentar os desafios climáticos, ambientais e produtivos que afetam a agricultura europeia no século XXI.
Mais informação disponíveis na página web oficial do Projeto Oportunity.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.












































