É consensual que vivemos num mundo globalizado em que as modas e tendências mudam a uma velocidade vertiginosa, mas é também neste mundo que se movimenta um consumidor cada vez mais consciente e informado, nomeadamente quando falamos de alimentação. É muito mais comum a preocupação com uma alimentação mais saudável, sustentável e amiga do ambiente, interessada pela origem dos produtos (alimentos) e no modo como são produzidos. E isso consegue-se através do combate ao desperdício ao longo de toda a cadeia (desde a produção até ao consumo em casa), da economia circular, de uma cadeia de abastecimento alimentar mais justa (iniciativa do Parlamento Europeu ao proibir o uso de práticas comerciais desleais), do estímulo ao consumo de produtos locais, como a recente iniciativa “km0” lançada no concelho de Évora que mais não é do que a promoção da economia local preconizadora de que os alimentos sejam consumidos perto do local onde são produzidos.
Mas, sabe-se que pelo menos em Portugal, um dos locais de eleição para fazer compras, nomeadamente de produtos frescos, são as grandes superfícies. Será que estes conceitos são compatíveis, ou antagónicos? No caso concreto da hortofruticultura, na última edição da Fruit Logística (fevereiro) foi apresentado um relatório de tendências para 2019 (Surprises in Store) elaborado pela consultora norte-americana Oliver Wymar, com base na participação de aproximadamente sete mil consumidores de 14 mercados na Europa e América do Norte. De acordo com esse estudo, 59% dos consumidores elege a qualidade como fator mais importante na escolha dos produtos frescos em loja e 47% afirma estar disposto a pagar mais por produtos de melhor qualidade. Diz ainda o relatório que a crescente procura do consumidor por produtos frescos de alta qualidade está também a aumentar a exigência em toda a cadeia de valor, obrigando os retalhistas a direcionar o foco para o setor hortofrutícola com o intuito de aumentar as vendas, melhorar a experiência do consumidor em loja e diferenciar a oferta do ponto de vista do produto.
Por cá os retalhistas não estão de modo algum alheios a estas tendências e cada qual tem desenvolvido as suas próprias estratégias, como acontece no Clube de Produtores Continente, onde a estratégia passa pela partilha de conhecimento técnico-científico junto dos produtores e através do seu Conselho Científico constituído por reconhecidos investigadores de entidades do sistema científico nacional e internacional.
Já no Grupo Auchan, a sua fileira Vida Auchan (Qualidade Sustentável), detém um caderno de encargos específico que visa as boas práticas na produção e na seleção das variedades com melhor desempenho, quer em aspeto como em sabor, para garantir a satisfação dos seus clientes, avança-nos Vítor Silva, Responsável Oferta e Compra Frutas & Verduras Auchan Retail Portugal.
No caso do Grupo Os Mosqueteiros, para dar resposta às exigências de qualidade dos consumidores nacionais o escoamento destes produtos é planificado na sazonalidade devida e adequada a cada região. Para além disso acompanha toda a produção primária e tem o cuidado de adequar as variedades à escolha do consumidor final. O Grupo Os Mosqueteiros, do qual faz parte o Intermarché , e de acordo com as palavras do seu administrador, Martinho Lopes, “desenvolveu ainda um sistema logístico que torna possível a não armazenagem de hortofrutícolas nos entrepostos logísticos, garantindo assim um transporte mais direto da produção às lojas”.
Já no caso da Jerónimo Martins, e segundo fonte oficial do Grupo, a estratégia passa por selecionar fornecedores que cumpram requisitos de qualidade e segurança alimentar. Os fornecedores são aprovados num contexto de seleção e avaliação de fornecedores de acordo com a legislação aplicável e requisitos internos do Grupo. Já nas centrais da JM, “na receção é efetuada uma inspeção aos produtos, onde por amostragem são avaliados entre outros parâmetros, características organoléticas (cor, cheiro, sabor, integridade da polpa, entre outras)”.
Está prevista para o início do próximo mês de julho a abertura da primeira loja Mercadona em Portugal, mas neste momento já compra em Portugal quantidades importantes de produtos para as suas lojas em Espanha, avança Patrícia Cotrim, Diretora do Setor Primário e Consumidores Portugal. Para atingir a satisfação do cliente a estratégia passa “por continuar a desenvolver a Cadeia Agroalimentar Sustentável da Mercadona, apostando na sua modernização mediante a colaboração com setores estratégicos do setor primário e a indústria agroalimentar”.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 225 (abril 2019)