O Acordo de Paris sobre o clima, aprovado há 10 anos, não consegue dar resposta à crise climática que o mundo vive, mas sem ele a situação seria muito pior, consideram organizações ambientalistas ouvidas pela Lusa.
A 12 de dezembro de 2015 os 195 países presentes na 21.ª conferência da ONU sobre o clima, em Paris, adotaram um acordo, o primeiro universal e vinculativo, de luta contra o aquecimento global e as alterações climáticas.
O Acordo contém medidas para conseguir limitar a subida da temperatura a dois graus no final do século, e de preferência que não vá além de 1,5ºC em relação à época pré-industrial, para evitar impactos catastróficos do aquecimento global, provocado pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) com origem, nomeadamente, na queima de combustíveis fósseis.
Em Paris a assistir aos debates esteve a associação ambientalista Quercus, atualmente presidida por Alexandra Azevedo. Também esteve em Paris o especialista em ambiente e professor da Universidade Nova Francisco Ferreira, presidente da associação Zero desde essa data.
Em declarações à Lusa os dois dirigentes apontaram lacunas e falta de ambição ao Acordo, mas dizem que o seu espírito permanece.
Alexandra Azevedo admitiu que falta ambição ao Acordo de Paris, apontou conflitos de interesses e falta de entendimentos globais, mas referiu como positivos entendimentos regionais sobre a luta climática, citando a conferência da Colômbia de 2026 sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. ”Ficarmos paralisados porque não é possível um acordo global não”, disse.
Com os países mais vulneráveis reféns dos danos já causados pelos desenvolvidos, o Acordo de Paris “nem foi honrado na última conferência do clima da ONU”, realizada no mês passado em Belém, Brasil. Contudo, acrescentou, “o seu espírito não caiu por completo”.
A transição energética, exemplificou, está a acontecer, mas há que ter limites, que estão a ser ultrapassados e levam a contestações em vários países (proliferação de painéis solares por exemplo).
E se as metas do Acordo de Paris não são cumpridas a verdade é que, afiançou, continuam a ser um referencial. “É bom haver uma consciência global quanto ao horizonte de temperaturas”, disse, acrescentando: “2030 é amanhã e estamos distantes das metas do Acordo”.
Para Francisco Ferreira, há uma trajetória mais positiva com o Acordo de Paris, porque há 10 anos o mundo caminhava para um aquecimento global de 3,5 a 4ºC (graus celsius).
Mas a trajetória ainda está “aquém do Acordo de Paris”, ainda não será este o ano em que se inverte o aumento das emissões de GEE. Aliás, notou, apenas uma vez as emissões baixaram e foi devido à pandemia de covid19.
Para já, com os dados existentes, avisou, em 2035 as emissões terão baixado 10%. Mas entre 2019 e 2030 era preciso uma descida de 25%, para um aumento de temperatura de 2ºC, e de 44% para um aumento de 1,5ºC. Os 10% previstos para 2035 nem para os 2ºC servem.
O presidente da Zero recordou que do Acordo de Paris fica a ideia de que um aumento de temperatura de 1,5ºC em relação à época pré-industrial é medido a 20 anos. “Ainda não atingimos, mas pensa-se que em 2030 atingiremos”.
Lembrando um relatório científico de 2018, Francisco Ferreira alertou que esta era uma década decisiva para a luta contra o aquecimento global. E acrescentou: “Mas não estamos a conseguir dar resposta”.
“Queremos manter os 1,5ºC, mas todos temos consciência de que o caminho, a cada dia que passa, precisa de uma inversão muito mais dramática”, disse, recordando que a humanidade não só provoca mais emissões como faz desaparecer mais sumidouros de carbono, destruindo o dobro da floresta em relação à que planta.
“Estamos a ser salvos à custa do oceano, que absorve 90% do calor excessivo”, lembrou.
Francisco Ferreira referiu ainda a importância do Acordo de Paris na revisão de cinco em cinco anos das contribuições dos países para a redução de emissões, dizendo que na COP30 se acelerou esse processo e se aumentou a ambição.
E tal como Alexandra Azevedo falou daquele que pode ser um bom caminho, o da Colômbia, um novo começo, o de um grupo de países avançar, sem estar à espera de unanimidade nas conferências da ONU.












































