A agricultura é a melhor prevenção para os incêndios. Uma agricultura viva à volta das aldeias, com terrenos cultivados ou alvo de pasto de vacas, ovelhas ou cabras (essas, capazes de pastar também a floresta) impede que o fogo chegue às casas.. Mas, atenção, em situações de risco, trabalhos agrícolas ou florestais podem causar incêndios.
Para os dias 27 e 28 de julho foi declarado estado de alerta que proíbe naturalmente queimadas, atividades na floresta e ainda “trabalhos nos espaços florestais e outros espaços rurais com recurso a qualquer tipo de maquinaria, com exceção dos associados à alimentação de animais e a situações de combate a incêndios rurais”. Faz sentido esta proibição “total”? Vejo reações de revolta com esta medida. Quem terá razão?
Vamos por partes: os incêndios podem ter causas naturais (trovoadas secas, já aconteceu este mês), ser ateados por incendiários com interesses económicos ou doentes (pirómanos) e ser causados por descuido. Acontece muitas vezes, mais do que imaginam. O mais comum são as queimadas, mas também aconteceu estes dias num churrasco, num trabalho agrícola e com uma roçadora na limpeza da floresta. Não acreditam?
A mim já aconteceu duas vezes, sem consequências. A primeira vez, há cerca de 20 anos, a velhinha automotriz que cortava o milho começou a deitar fumo devido a um rolamento que aqueceu. Parámos a tempo e não houve incêndio na máquina, nem havia risco estando no meio de um campo de milho silagem (verde). A segunda vez aconteceu-me este ano, ao cortar um campo de erva já bem seca. Tive o cuidado de fazer o trabalho num dia de temperatura amena (estavam pouco mais de 20 graus) e pouco vento. Estava a terminar o campo, já no centro e vi o fogo a começar quando voltei a passar no mesmo sítio poucos minutos depois. A erva seca era pequena, estava cortada e o incêndio teve meio metro quadrado e foi fácil de apagar. Uma pedra no centro da zona ardida foi a causa evidente da ignição, ao passar a gadanheira.
Portanto, é complicado, mas tenham paciência: nestes dias de risco máximo de incêndio, por causa do vento e da baixa humidade, há trabalhos que não se podem fazer na floresta, próximo da floresta ou em qualquer terreno com erva seca. Isto devia ser notícia de abrir o telejornal e ser bem explicado às pessoas, para prevenir, mesmo aquelas que pensam que sabem tudo, que isto dos incêndios é só culpa dos incendiários, porque hoje o risco de incêndio grave é muito maior do que era há 20 ou 50 anos atrás, por causa do clima, da evolução da floresta, dos terrenos abandonados, da população rural envelhecida…
Por outro lado, para além da excepção sobre alimentar os animais (muito bem, uma evolução face ao estado de alerta no início do mês de julho) há uma série de trabalhos, a começar pela rega, que previnem os incêndios, que não se devem parar e não se podem adiar, sob risco de perder as culturas, como tratamentos fitossanitários ou colheitas de frutas ou hortícolas. Portanto, precisamos melhor comunicação sobre isto e distinguir melhor os trabalhos perigosos dos que podemos realizar, sob pena de uma proibição total não ser levada a sério e não haver polícia para controlar tanto agricultor e entretanto ficam à rédea solta potenciais incendiários. Mas, antes de mais, paciência, atenção e muito cuidado. Se não der para fazer mais nada à sombra, aproveitem para descansar. É uma ordem, para nossa segurança, da floresta e das nossas aldeias. Nunca vos aconteceu chegar à conclusão que “mais valia estar quieto”?
#carlosnevesagricultor
#portugalchama
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