O falecido Presidente guineense João Bernardo “Nino” Vieira tinha na agricultura a sua grande paixão e um escape para os problemas políticos e militares do país, disse à Lusa Júnior Mamadu Djabi, um dos mais próximos amigos do político.
Atual deputado, Júnior Djabi contou à Lusa que conheceu pessoalmente ‘Nino’ Vieira em 1986, ao regressar ao país, vindo de Portugal, onde se encontrava a estudar, através do seu falecido pai, o industrial Mamadu Djabi, que era “amicíssimo do Presidente”, que foi assassinado há precisamente 15 anos.
Desde essa altura, adiantou Júnior Djabi, a cumplicidade entre ambos fortaleceu-se por intermédio da paixão que ambos nutrem pela agricultura, que era desenvolvida nas várias quintas que ‘Nino’ Vieira possuía no interior da Guiné-Bissau.
Sem ter nenhuma formação na área da agricultura, Júnior Djabi era o responsável pelas quintas de “Nino” Vieira, notou o agora político, que considerou o falecido Presidente guineense “pai, amigo e irmão” ao mesmo tempo.
“O Presidente gostava mesmo era da agricultura. Quando íamos para uma das suas quintas ele não falava de política. Talvez fosse um dos poucos lugares onde não se falava de política. Ele só queria saber das suas plantações de manga, laranja, ananás, arroz”, disse.
Uma das mangueiras na quinta de Nsalma, no centro de Bissau, era exibida “com orgulho” por “Nino” Vieira, afirmou Júnior Djabi, referindo-se a uma árvore ali plantada pelo ex-Presidente português Ramalho Eanes quando visitou a Guiné-Bissau.
Entre as plantações agrícolas, “Nino” Vieira gostava mais do arroz e da manga, alimentos que, no entanto, ordenava que se oferecesse às populações vizinhas das suas quintas, acrescentou Djabi.
“O Presidente gostava de oferecer o que era produzido nas suas lavras”, disse, lembrando que era uma das formas que “Nino” encontrava para incentivar a população a produzir mais.
Um dia antes de ser assassinado em Bissau, em 02 de março de 2009, Júnior e “Nino” Vieira ainda visitaram a quinta de Nsalma, a cerca de 21 quilómetros de Bissau, e só não foram para as outras “porque o Presidente estava cansado”.
“Ao chegarmos à Bissau despedi-me dele, aí por hora do almoço, e fui para a minha casa com a promessa de que no dia a seguir, no domingo, ir chamar-me assim que precisasse de mim”, contou Junior Djabi.
E foi na madrugada de sábado para domingo que “Nino” seria assassinado. O amigo explica que ainda tentou falar com “o Presidente por várias vezes, sem sucesso”.
A amizade com o falecido Presidente guineense nunca esfriou, mesmo quando o político foi votado ao ostracismo por parte de alguma franja da sociedade guineense que o acusava de ser responsável pelo conflito político-militar no país que durou 11 meses (de junho de 1998 a maio de 1999).
Na sequência deste conflito, “Nino” foi derrubado por uma Junta Militar que passou a vigiar aqueles que ousavam elogiar o seu consulado.
Em maio de 1999, “Nino” exilou-se em Portugal durante seis anos até regressar a Bissau em abril de 2005 para meses depois ser novamente eleito Presidente da Guiné-Bissau.
Seria assassinado quatro anos depois, a pouco menos de um mês de completar 67 anos.
Junior Djabi, que, entretanto, se mudou de Bissau para Lisboa, disse ter visitado “Nino” Vieira várias vezes, no Porto, durante os anos de exílio do Presidente com quem falava da agricultura e jogava cartas e dominó.