No dia em que corrigíssemos Odemira, este mesmo capitalismo levaria tudo isto para outro lado, com outras vítimas. É o que tem feito há gerações.
É revelador como emergem os problemas no debate público. Sobre Odemira, demorou-se a passar da cerca sanitária imposta às freguesias onde trabalham e vivem imigrantes para a perceção de um agrocapitalismo de estufa feito de abuso laboral generalizado e de ilegalidade descarada (salários, alojamentos, sequestro de documentos). O escândalo abriu um pequeno espaço para que, finalmente, se ouvissem as soluções propostas há muito por associações, sindicatos, partidos de esquerda, investigadores sociais: legalização de imigrantes, alojamentos condignos, eventualmente acordos com os países de origem. Até ao dia em que a CAP e a ministra da Agricultura vierem advertir que, se adotadas, elas poriam em causa a competitividade, ou que a UE avise que Portugal não pode avançar com legalizações que ponham em causa a segurança europeia…
A questão, contudo, é que, no dia em que corrigíssemos Odemira, este mesmo capitalismo levaria tudo isto para outro lado, com outras vítimas. É o que tem feito há gerações. O problema, que é tudo menos exclusivamente alentejano ou português, é o do “desenvolvimento de formas ilegais, e às vezes até esclavagistas, de recrutamento de mão-de-obra agrícola, passando pelas formas mais atípicas e flexíveis de trabalho ocasional”, criando “uma sub-classe de trabalhadores temporários que são substituídos através de uma rotatividade permanente” (Nicholas Bell, Le Monde Diplomatique, abril 2003).
Este é o modelo que há 30 anos caracteriza o
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