Numa freguesia rural de Ponta Delgada, um casal que se mudou para os Açores há seis anos construiu a própria casa, com electricidade, água e saneamento próprio. A mudança, asseguram Ricardo e Mafalda, “está ao alcance de qualquer um”. É a “pequena grande casa”.
A canada é de terra, com várias rochas pelo caminho. São os muros de pedra, grande parte em ruínas, que definem a estrada por entre os montes verdes típicos da paisagem açoriana. O mar está mais ao longe e para ali só vão os agricultores que têm vacas naqueles pastos. Naquele caminho, na freguesia dos Fenais da Luz, em Ponta Delgada, a única habitação nas redondezas é a de Ricardo Pereira, Mafalda Fernandes, do filho Joaquim e de Pi, o cão da casa. Decidiram mudar-se para os Açores e construir uma microcasa de raiz, com sistemas de energia, de água e esgoto próprios. Uma habitação quase totalmente sustentável à qual chamaram “a pequena grande casa”.
“A sustentabilidade total é um objectivo impossível de alcançar”, corrige Ricardo, enquanto nos mostra a casa, toda em madeira, com 7,5 metros de altura, seis de largura, 45 metros quadrados no total. “Só o estarmos a respirar cria pegada ecológica, o nosso objectivo é demonstrar que é possível ter uma vida diferente com tanto ou mais conforto do que o do estilo de vida normal, estando completamente off the grid [desligado da rede] e utilizando materiais reciclados e reutilizáveis”, explica ao P3 o carpinteiro de 34 anos. Há seis, juntamente com a namorada, optou por viver em São Miguel, em busca de “uma vida diferente”.
O ano era o de 2013, auge da crise económica que assolou o país. Mafalda, de Almada, e Ricardo, de Beja, viviam juntos em Lisboa e eram presença assídua nas manifestações que aí aconteciam. Como muitas da sua geração, estavam revoltados com o estado do país. “Os nossos amigos estavam todos a ir embora, nós estávamos muito desanimados e o ambiente em Lisboa estava mesmo muito em baixo”, recorda Mafalda, que naquele ano, foi até ao festival Walk & Talk, em São Miguel, apresentar “Conversas”, um projecto que tinha com uma amiga. Durante a estadia, surgiu o convite para trabalhar numa habitação de turismo rural na ilha. “Aceitámos logo”, confessa a designer de equipamentos. Ricardo, o namorado, seguiu-a e começou a trabalhar no mesmo projecto de turismo rural.
Seis anos, cinco casas depois e já com o filho Joaquim (agora com três anos), compraram um terreno para construírem uma casa e se fixarem em definitivo. Escolheram um espaço rural a 15 minutos de Ponta Delgada, mas esbarraram numa série de impedimentos: como se trata de uma zona florestal, estão impedidos de construir […]