A cerejeira é uma cultura característica e emblemática das freguesias do Jardim da Serra e do Curral das Freiras, ocupando uma área total de 30 ha, distribuídos por cerca de 436 agricultores. Com 27 ha e 322 explorações, o Jardim da Serra tem a cerejeira como ex-líbris, com a Festa da Cereja a se realizar desde 1954.
Relativamente à produção, e considerando o último inverno moderadamente frio e a floração da cerejeira, que ocorreu há cerca de duas semanas e foi uniforme e exuberante, bem como o que tem sido possível observar da percentagem de cereja vingada, se nada ocorrer de imprevisto até à altura da colheita, perspetiva-se uma campanha de 2023 com muito boa produção, ou seja, muito superior à do ano transato.
Assim, pensa-se que em meados de junho poder-se-á já festejar e se deliciar com a nossa cereja, que é um regalo para os residentes e aqueles que nos visitam.
De salientar que a cultura da cerejeira tem sido alvo de uma especial atenção por parte da Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, através da Direção de Serviços de Desenvolvimento Agronómico, tendo sido implementados ensaios e/ou estudos, de modo a ultrapassar os problemas apresentados por esta cultura nos últimos anos, a saber:
- As alterações climáticas, que levaram à falta do número de horas de frio adequadas para a floração e vingamento da cereja. Para tal, está a decorrer um ensaio, inicialmente com duas variedades menos exigentes em horas de frio, nomeadamente 3-13 e a Stacatto, e, mais recentemente, com as variedades Royal Tioga e Red Pacific, cujo objetivo é observar o desenvolvimento e produtividade destas quatro variedades nas nossas condições edafoclimáticas, para, se for o caso, recomendá-las aos produtores de cereja;
- Ainda no âmbito das alterações climáticas, e com o objetivo de mitigar a quebra de dormência das cerejeiras, devido à falta de frio suficiente, deu-se início, já este ano, a um ensaio com a aplicação de várias substâncias, para estudar a sua influência na quebra de dormência e homogeneidade de floração/abrolhamento;
- O fungo Armilária sp. (fungo radicular), que tem dizimado muitos pomares de cerejeiras, uma vez que, além das medidas preventivas, não existe um tratamento eficaz contra o referido fungo. Para este problema, está em avaliação dois porta-enxertos, o marilland com filtro adara e o prunus serrulata, para verificar qual a sua resistência e/ou tolerância ao referido fungo;
- Escassez de precipitação, que se deve às alterações do ciclo hidrológico na freguesia do Jardim da Serra, ou seja, sendo a cerejeira uma cultura que se adapta ao modo de produção de sequeiro, com a redução da precipitação outono/inverno e numa freguesia com forte escassez de água, tem vindo a provocar alterações fenológicas, bem como o aparecimento de pragas e doenças, pois a falta de água leva a carências nutricionais, fazendo com que a capacidade da planta reagir seja menor, debilitando assim os pomares que não são irrigados.
Além destes problemas, que são os que mais preocupam e limitam a cultura, alerta-se os produtores para as seguintes pragas:
– o piolho negro de cerejeira (Myzus cerasi) na fase de rebentação;
– a mosquinha de asa manchada (Drosophila suzukii) na mudança de cor (maturação) da cereja e;
– a larva lesma (Caliroa cerasi) após a colheita, que ataca as folhas, fazendo um rendado.
Para mais informações, aconselha-se a consulta dos Avisos Agrícolas n.os 2/2021, 8/2022 e 1/2023, com as recomendações necessárias para o controlo das pragas e doenças que mais afetam a cultura da cerejeira na RAM.
Artigo publicado originalmente em DICAs.