O ano começou bem, a prometer mais um recorde de vendas na região dos Vinhos Verdes, mas “abril foi muito difícil, em especial para os produtores mais pequenos, muito dependentes de restaurantes e garrafeiras”
“Os números ainda não estão fechados mas abril foi muito difícil, em especial para os produtores de vinho verde mais pequenos, muito dependentes de restaurantes e garrafeiras”, diz Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV – Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, num primeiro balanço do impacto da pandemia no sector.
Depois de um bom arranque de ano, com as vendas a crescerem 6% até março e a abrirem a porta a um novo recorde na região, a pandemia trocou as voltas aos 15 mil produtores e 600 engarrafadores de vinho verde. “E os mais pequenos, muito dependentes do canal Horeca (hotelaria e restauração), foram especialmente afetados”, sublinha Manuel Pinheiro.
Certo de que os maiores, com presença na moderna distribuição, “continuaram a fazer negócio”, o presidente da CVRVV sabe que para o futuro dos produtores da região “é importantíssimo os restaurantes retomarem o seu normal funcionamento”.
E na exportação também há duas realidades, com mercados como a Noruega ou a Suécia a funcionarem “em volumes interessantes” e outros em quebra clara, designadamente a França e o Reino Unido.
A importância de “Os Melhores Verdes”
“Mais do que nunca é necessário destacar a excelência dos produtos portugueses, e um concurso como ‘Os Melhores Verdes’ torna-se uma ferramenta importante de promoção dos vinhos verdes”, diz o presidente da CVRVV para justificar a aposta na continuidade desta seleção regional, iniciada já há mais de duas décadas e que esta segunda-feira teve mais uma edição.
Foi impossível reunir o júri internacional que todos os anos escolhe os 5 melhores rótulos para a exportação, mas foi criado o prémio Grande Medalha de Ouro, que distinguiu o Quinta de Gomariz Colheita Seleccionada Avesso 2019 como melhor vinho de 2020 entre 243 concorrentes, 14 dos quais distinguidos com a medalha de ouro em 13 categorias distintas.
E se os prémios que também contemplaram 14 vinhos na categoria Prata e 149 na categoria Honra são “importantes para os pequenos produtores usarem como prova de qualidade quando se apresentam nas garrafeiras, na distribuição, na exportação, e têm impacto direto nas vendas”, Manuel Pinheiro destaca também que as candidaturas de “colheitas iguais ou superiores a três anos” estão a aumentar.
“Fica assim confirmado o potencial de guarda dos vinhos verdes, uma aposta estratégica da CVRVV na valorização deste produto”, afirma o presidente da comissão, certo de que “os verdes estão a provar que são vinhos tão maduros como qualquer outro”.
A escolha de um avesso como grande vencedor este ano é apontada como indicador da “diversidade de uma região que não vale apenas pelo Alvarinho e tem outras castas de elevado potencial”.
Vindima e apoios à vista
Quanto à próxima vindima, ainda é cedo para falar mas, para já, apesar de haver algum míldio, “o bom tempo da última semana e meia permite encarar o momento com tranquilidade, apesar de ainda ser preciso enfrentar o verão e os riscos de granizo e insolação associados a esta estação”, comenta.
“Depois de 45 dias de confinamento, há vinhos maravilhosos para descobrir”, resume o presidente da CVRVV. Defende que nesta fase pós-confinamento é hora de jogar ao ataque para enfrentar os próximos tempos e “vencer o grande desafio do mercado” tendo por base o lançamento de um nova “campanha de comunicação” em que serão investidos 300 mil euros.
Para o futuro da região e da vitivinicultura lusa, Manuel Pinheiro também considera fundamental “avançar o quanto antes” com as medidas de apoio ao sector anunciadas pela ministra da Agricultura, designadamente os apoios para destilação de crise e armazenamento.
“Os 10 milhões anunciados para todo o país são manifestamente insuficientes e têm de ser reforçados”, diz, sem esquecer a comparação com “os 140 milhões atribuídos em França”, “mas é preciso avançar com a regulamentação o quanto antes”, conclui.