Os consumidores têm de estar conscientes que as suas opções de escolha e de compra podem fazer toda a diferença.
A Covid-19 vai potenciar o consumo. Será expectável que seja um processo lento, dentro da normalidade, pois a (re)educação para um consumo, mais consciente e sustentável, acarreta um conjunto amplo de medidas: umas de cariz económico, outras de comunicação e sensibilização. Porém, as crises, especialmente esta da Covid-19, são sempre uma oportunidade enorme para intensificar a mensagem de que a produção e o consumo de produtos nacionais, poderão ser, uma fonte objetiva de equilíbrio, nomeadamente face aos impactos negativos que as contas da nossa Nação vão sofrer.
A psicologia e a sociologia do consumo, absorvem os padrões e hábitos de compra, constituindo dimensões do comportamento humano, com especificidades próprias e por vezes muito complexas. Aliás muito mais complexas do que o fenómeno do rendimento disponível para compras de alimentos. A equação do rendimento disponível, a dos preços, a das elasticidades da procura e a da utilidade, entre outras, são meros apêndices ao órgão principal: o processo de decisão, visto do ponto de vista sociológico, antropológico e psicológico. Nestas áreas, onde o marketing agroalimentar se vem paulatinamente posicionando, é que residem os grandes desafios para se melhor entender a dimensão e importância que o consumidor efetivamente (mas sem saber), tem. O poder de compra não é, só, económico. O poder de compra, vai passar a ser mais, o poder de escolha. Isso sim, é que representa o poder que o consumidor tem. Poder para selecionar produtos, marcas, origens e canais onde comprar. Isso sim, é poder de compra. É bem verdade que o consumidor tem um poder enorme. É bem verdade que, a este respeito, a iliteracia do consumo demonstra-se gritante. Está claro que os sistemas de ensino atuais, deveriam desde muito cedo, ter como unidades curriculares obrigatórias, o consumo responsável e a cidadania agroalimentar e florestal.
Há uma apetência natural do consumidor, que em circunstâncias desta magnitude, se assume mais como ser humano do que propriamente como consumidor, sem entender qual é verdadeiramente o seu papel na sociedade de consumo. É o despertar para a realidade. É claramente o aproveitar do tempo de reflexão que o comprador vai estimulando, que o leva a exercer um pensamento crítico sobre a sua importância, enquanto indivíduo, para a melhoria do todo.
Nestes casos, em que os apelos são claros à unidade Nacional, à preservação da nossa saúde, da nossa economia e da nossa felicidade, o ser humano, passa de um patamar de comprador funcional, para um de consumidor cujo comportamento de compra, impulsiona claramente dois impactos que se complementam: o impacto social alavancado no conceito de cidadania e, naturalmente, o impacto económico, procurando a preservação da economia nacional. Destaco ainda como efeito colateral, mas a ter em linha de conta, o facto de muitos consumidores aproveitarem o atual momento, para incorporar o “”, como novo de consumo. Afinal eu posso mudar … e contribuir para uma mudança ainda maior.
Os consumidores têm de estar conscientes que as suas opções de escolha e de compra podem fazer toda a diferença. No entanto, a “redutora” lei de Engel, continuará a ser uma forte fonte de inspiração, para todos aqueles que teimam em encarar a produção nacional, apenas no eixo económico e da competitividade, assente no binómio custo/preço de venda. A alimentação, a compra e o consumo de alimentos, são muito, mas mesmo muito mais, do que isso.
Importa pensar que todos podemos contribuir para impulsionar a produção nacional, dando preferência a produtos nacionais em sectores estratégicos, e assim, apoiar uma recuperação mais rápida da nossa economia.
Rui Rosa Dias, professor do IPAM